Serra defende maior liberdade em acordos do Mercosul
José Serra (PSDB-SP), atual canceler brasileiro, defendeu, na última segunda-feira (23), em Buenos Aires, Argentina, sua primeira viagem no comando do Itamaraty, que os integrantes do Mercosul tenham maior liberdade para negociar acordos bilaterais. O senador reuniu-se ao longo do dia com a ministra das Relações Exteriores argentina, Susana Malcorra, o ministro da economia, Alfonso Prat-Gay, e o presidente Mauricio Macri.
“O Mercosul é uma união aduaneira. Não é uma zona de livre comércio, que é o que eu sempre defendi. O problema da união aduaneira é fazer acordos com outros países do mundo sem ser em conjunto. A nossa estratégia é flexibilizar isso. Às vezes, um pode abrir a oportunidade e os outros vêm depois”, disse o tucano, em entrevista coletiva na embaixada brasileira, já à noite. A proposta seria permitir que um integrante do Mercosul estabeleça acordos com países de fora do grupo e, posteriormente, os outros membros do bloco se somem, de acordo com a escolha de cada um.
Questionado se o governo Michel Temer teria legitimidade para propor mudanças profundas no bloco, o tucano disse que “decisões têm de ser tomadas” e há aval do Congresso. Ele ponderou que não via necessidade de grandes alterações no Mercado Comum do Sul antes dos seis meses que pode durar o afastamento de Dilma Rousseff.
A busca de alternativas para reativar duas economias em recessão esteve no centro de reuniões de Serra com PratGay e, por último, com Macri. O intercâmbio comercial entre as nações caiu 42% entre 2011 e 2015, de US$ 39 bilhões para US$ 23 bilhões.
O governo Macri, que reconheceu a legalidade da administração Temer minutos depois de o Senado abrir o processo de impeachment, reiteradamente disse ter interesse na retomada da atividade econômica no Brasil, responsável por 40% do comércio internacional argentino. Segundo a consultoria Abeceb, nos primeiros quatro meses, o déficit bilateral argentino triplicou e chegou a US$ 1,4 bilhão, em razão da queda no consumo brasileiro.
Do salão em que o ministro falava, ouviam-se apitos de manifestantes contrários ao governo Temer. Os protestos, que ele classificou como irrelevantes, o acompanharam desde sua chegada a Buenos Aires, na noite de domingo (22), quando 35 ativistas jogaram bolinhas de papel contra seu carro. Na segunda, 150 pessoas exigiam a renúncia de Temer e chamavam sua gestão de golpista. Parte do grupo era formado por militantes kirchneristas.
Entre as diretrizes da nova política externa brasileira, anunciadas na semana passada, Serra colocou a relação com a Argentina. Em seu discurso de posse, ele citou “referências semelhantes para reorganização da política e da economia”, ao se referir ao governo argentino, eleito no ano passado por uma coalizão de centrodireita. O político salientou sua intenção de “despartidarizar” seu ministério, algo que Malcorra também assumiu como compromisso ao tomar posse, em dezembro, como chanceler, após 12 anos de administração kirchnerista.
Caracas
A situação da Venezuela, que criticou o processo de impeachment brasileiro e tem sido alvo frequente de críticas pelo governo de Buenos Aires, também esteve na pauta do chefe do Itamaraty. O presidente argentino pressiona Caracas pela libertação de presos políticos e já ameaçou pedir a suspensão do país do Mercosul. Questionado se exigiria a punição ao país governado por Nicolás Maduro, Serra disse defender um processo de mediação. Ele ressaltou que a turbulência brasileira impediria Brasília de exercer esse papel de intermediário.
Serra chegou à Argentina já com a definição do novo embaixador brasileiro em Buenos Aires, Sérgio França Danese. Ele ocupa a função de secretário-geral do Itamaraty, segundo posto na hierarquia da instituição, cargo que será exercido por Marcos Galvão.
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