Sobrevivente do nazismo morre aos 86 anos em São Paulo
Miriam Brik Nekrycz morreu aos 86 anos no último domingo (18), em São Paulo. Ela era uma das sobreviventes do holocausto que reconstruiu a vida no Brasil. Nekrycz casou-se e constituiu família no país após fugir do nazismo, que matou cerca de um milhão e meio de crianças judias.
A sobrevivente fazia palestras sobre o holocausto e escreveu o livro de memórias, “Relato de uma vida”, no qual conta como foi viver sob o regime totalitário do terceiro Reich e como escapou da morte inúmeras vezes. Em uma ocasião, quando tinha nove anos, Nekrycz precisou se esconder com a mãe e uma de suas irmãs em um buraco cavado na floresta nos arredores dos guetos poloneses.
Sua vida foi salva graças a uma mulher que a deu emprego aos dez anos como babá. Oportunidade que a sobrevivente aproveitou para conseguir um teto e, ainda, reunir alimentos para levar para a mãe e irmã na floresta. Porém, em pouco tempo, quando levava alimentos para a família, a jovem viu soldados ucranianos e alemães próximos do esconderijo. Após uma série de tiros, apenas a menina saiu com vida.
Nekrycz contava em palestras – e no livro – que logo no começo da guerra, quando ainda morava em uma aldeia na Ucrânia, próxima à fronteira com a União Soviética, cerca de três mil homens entre 16 e 60 anos foram convocados pelos nazistas para trabalhar. “Eles acharam bom e foram”, dizia. Mais tarde, com a guerra avançada e já escondida na Polônia, a sobrevivente soube que todos os convocados haviam sido mortos no mesmo dia.
Ela conta ainda que passou fome, isso porque os nazistas permitiam que judeus comprassem pouquíssimas gramas de alimentos. “Os alemães nos permitiam comprar somente 80 gramas de pão por dia”, contou. Ela revela que precisou, muitas vezes, comer restos de alimentos para porcos quando ia com a irmã atrás de alimento na aldeia. As duas arriscavam a vida e muitas vezes eram reconhecidas. “Ô, judia, você ainda está viva? Vou chamar os alemães”, ouviam.
Já no Brasil, em suas palestras, Nekrycz agradecia por ter sobrevivido e se considerava privilegiada por ter visto o fim do nazismo, “Se eu fui preservada apenas para presenciar a derrota nazista, sentir o gosto supremo da liberdade e ver a vitória sobre a opressão e a morte, isto bastaria para eu me considerar feliz”, disse.
*com informações de Estadão Conteúdo
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