Sobreviventes da tragédia de Brumadinho relatam drama com casas destruídas: “Perdemos tudo”

  • Por Jovem Pan
  • 27/01/2019 14h43
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EFE Sobreviventes da tragédia em Brumadinho relatam drama após terem casas e pertences destruídos

Moradores da cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, olham de longe suas casas, hoje destruídas e soterradas por resíduos minerais que transformaram a paisagem verde local em um mar de lama. O que antes era um vale próspero com algumas fazendas dedicadas à agricultura e à pecuária, hoje é um lamaçal. O silêncio é sepulcral, só interrompido pelo som dos helicópteros de resgate e o canto de algum galo.

Em alguns pontos só é possível ver as copas das árvores. O tronco está soterrado por milhões de toneladas de lama procedente da barragem da mineradora Vale que se rompeu na sexta-feira (25) e deixou pelo menos 37 mortos e entre 250 e 300 desaparecidos.

Na margem deste novo mar espesso e viscoso de cor marrom, algumas casas se mantiveram de pé, parcialmente destruídas. Em uma delas vivia Isamara de Araújo, de 49 anos, e Pedro de Jesus Rocha, de 50, com seu filho e enteado. Cuidavam da terra deste sítio há “um ano e pouco” para um fazendeiro e viviam em uma pequena casa ao lado do casario principal.

“Foi de repente, estava esquentando a comida. Escutei um barulho muito forte e aí pedi aos meninos que fossem lá para ver o que acontecia. Disseram que estava inundando. Não deu tempo para pegar quase nada, saímos correndo para cima. Veio rápido, destruindo tudo”, relata Isamara. “Perdemos tudo, sobrou isso aí, algumas galinhas e uma cabra, perdemos tudo”, lamenta.

A lama, que visualmente parece lava vulcânica, mas fria e marrom, entrou literalmente dentro da casa e rachou de ponta a ponta uma das paredes da cozinha, onde só sobrou uma lavadora derrubada e uma parede de tijolos. Isamara voltou para ver o estado da casa e descobriu o corpo de um homem. Chamou os bombeiros e na mesma área foram encontrados outros quatro mortos.

No quarto onde o casal dormia falta uma parede, onde agora há troncos e lama escorrendo. A casa a qualquer momento pode desabar. O galinheiro, um curral de gado e oito das dez cabras que cuidavam desapareceram do mapa, engolidos pela destruição.

“Foi um barulho imenso, acreditamos que era o trem com o ferro e a locomotiva”, lembra Pedro de Jesus, que conta que se não tivessem saído com rapidez, teriam sido varridos pela onda de barro, pois tudo foi “muito rápido”.

Sem luz, sem água e “sem nada”, como diz Isamara, a família aguardará no local, à espera do que seu patrão irá dizer, com uma sensação de “muita tristeza” e impotência. Para Pedro de Jesus, a tragédia mostra até que ponto chega “a desatenção dos poderosos”.

No momento da tragédia, Santusa de Fátima Assis também estava fazendo comida, quando teve que deixar tudo para salvar sua vida e a de seu marido. “Meu vizinho trabalha na Vale, aí ele recebeu uma ligação dizendo que a barragem tinha rompido e saiu gritando: ‘Vamos correr que arrebentou’, e fomos lá para cima”, lembra. “Estava fazendo a comida e do mesmo jeito que estava fazendo deixamos ela lá e saímos”, acrescenta.

No seu caso, o “tsunami” de água e resíduos minerais só destruiu a parte atrás de sua casa, à qual por enquanto não pode voltar pelo alto risco que representa.

Santusa confessa que vontade não falta para se mudar da cidade, mas acredita ser impossível. “Agora, com tudo isso, todos os valores. Como alguém vai querer comprar um lugar no qual há perigo?”, se pergunta.

*Com EFE

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