Sobreviventes e familiares de vítimas da boate Kiss deixam júri após fala de ex-prefeito
Cezar Schirmer negou que a prefeitura seja responsável pela tragédia e disse que investigação da polícia sobre o caso foi ‘medíocre e espetaculosa’
Sobreviventes do incêndio da boate Kiss e familiares das vítimas que assistiam o julgamento nesta quarta-feira, 8, abandonaram a plateia após declarações do ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer (MDB). Durante seu depoimento, o político negou que a prefeitura tenha responsabilidade pela tragédia e afirmou que a investigação conduzida pela Polícia Civil foi “medíocre e espetaculosa”. Schirmer disse ainda que o inquérito foi movido por notícias da imprensa. “O inquérito foi feito pela imprensa. Não foi feita uma investigação sóbria, discreta, respeitosa com as famílias. Parecia que era um desejo de envolver a prefeitura de qualquer forma”, declarou. “Havia um esforço desde o começo no sentido de ‘falta mais gente no julgamento’, isso eu ouvi até semana passada, várias vezes. E todo tempo, faz oito anos que eu ouço isso. Isso era uma narrativa para responsabilizar 50, 30, 20 [pessoas] para reduzir a responsabilidade individual desse ou daquele, óbvio”, disse.
O ex-prefeito disse ainda que responsabilizá-lo foi uma “estratégia montada”. “Eu compreendo, como advogado, eu sou bacharel em direito, que é uma estratégia de defesa. Eu respeito, é o direito do defensor, está certo ele. Não estou criticando o advogado, estou só dizendo que essa foi a narrativa montada desde o começo, e desde o começo eu ouço insinuações que eu deveria estar aqui não como testemunha. Eu estou aqui como testemunha, não como réu”. Várias pessoas que estavam na plateia começaram a deixar o local quando Schirmer negou responsabilidade pela tragédia na casa noturna. “Eu não fiz nada, doutor, absolutamente nada que pudesse comprometer a mim e nenhum servidor da prefeitura agiu de tal forma que tenha contribuído para o que aconteceu naquela noite, que foi um incêndio, apenas isso, com vítimas fatais e eu lastimo muito tudo que ocorreu. Até hoje isso me entristece muito”, completou. O julgamento do caso da boate Kiss já dura oito dias, em Porto Alegre, e ouviu mais de 20 pessoas. Os réus são acusados de homicídio simples e tentativa de homicídio pelo incêndio que deixou 242 mortos e 636 feridos em janeiro de 2013, em Santa Maria.
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