Sociedade digital: a ‘deep web’ e os atiradores de Suzano

  • Por Jovem Pan
  • 15/03/2019 17h30 - Atualizado em 10/03/2022 16h10
ANANDA MIGLIANO/ESTADÃO CONTEÚDO Com fama de obscura, perigosa e criminosa, a parte menos regulada da Internet pode estar diretamente ligada aos assassinatos na escola Raul Brasil

Assim que as mortes causadas por dois atiradores em Suzano na última quarta (13) começaram a ganhar os jornais e as investigações da Polícia passaram a se aprofundar no caso, um termo relacionado ao crime recebeu destaque: deep web.

Com fama de obscura, perigosa e criminosa, a parte menos regulada da Internet pode estar diretamente ligada aos assassinatos na escola Raul Brasil, na pacata cidade do Alto Tietê paulista, onde oito pessoas foram mortas a tiros por Luiz Henrique de Castro (25) e Guilherme Taucci Monteiro (17).

Parte das investigações do caso sugere que os dois amigos teriam frequentado fóruns na deep web pedindo dicas de como cometer o crime. Os grupos online geralmente são acessados por entusiastas de assassinatos como o praticado em Suzano.

“Estima-se que, somente em termos de conteúdo, a deep web seja 500 vezes maior do que a ‘internet de superfície’, que todos nós usamos”, diz o especialista em tecnologia e consultor da Jovem Pan André Miceli.  “É um espaço onde não estão indexados páginas e conteúdos comuns”.

Mesmo com possibilidades mais restritas de acesso do que o mundo online normal, entrar na deep web é possível para quem deseja. Navegadores específicos e com encriptação diferente dos que são usados pelo público geral concedem o acesso a documentos, pesquisas acadêmicas e registros financeiros não listados na rede convencional.

Há, no entanto, um território ainda menos explorado na internet profunda: a chamada ‘dark web’. “Ali você pode encontrar assassinos de aluguel, tráfico de drogas, comprar órgãos e entrar em sites de pedofilia”, afirma o jornalista Carlos Aros. “É o pedaço mais problemático da deep web”.

É na dark web onde provavelmente os atiradores de Suzano teriam conseguido reunir a estratégia usada na compra das armas e as informações necessárias para cometer os assassinatos. Segundo os investigadores, a intenção dos amigos era deixar mais mortos do que no massacre de Columbine, nos EUA, onde 13 pessoas foram mortas também em um colégio.

Em entrevista ao Jornal da Manhã nesta sexta (13), o procurador-geral de São Paulo Gianpaolo Smanio afirmou que o Ministério Público do estado investiga a influência de organizações criminosas digitais no tiroteio. “Ainda é preciso esgotar o caso, mas pode haver sim grupos por trás desse ataque. Nós montamos um gabinete especializado em tecnologia para averiguar isso”.

Os especialistas alertam ainda que mesmo quem navega na deep web por simples interesse pode correr graves riscos. “Ali você está muito mais exposto do que a vírus ou clonagem de cartões, que são crimes normalmente cometidos na rede comum”, diz Aros. “Na deep web você está fisicamente vulnerável. E, se for pego, pode sofrer complicações. É tão perigoso, por exemplo, como frequentar uma boca de fumo por curiosidade”.

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