“Temer não tem compromisso para 2018”, diz ACM Neto

  • Por Estadão Conteúdo
  • 14/08/2016 09h24

"Que eu saiba o presidente não acenou com compromisso político-eleitoral com o partido A Ângelo Pontes/Agecom ACM Neto

O prefeito de Salvador, Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto, mais conhecido como ACM Neto, do DEM, e candidato à reeleição, disse ao Estado, em entrevista na manhã do dia 4 deste mês, que o presidente interino Michel Temer “não tem compromisso com o PSDB nem com nenhum outro partido para 2018; não tem nem pode ter”.

Em uma das salas de seu apartamento novo, com vista para o mar, complementou: “Que eu saiba o presidente não acenou com compromisso político-eleitoral com o partido A, B ou C em 2018. Ele nem sequer admitiu conversar isso com quem quer que seja”. Disse, ainda: “Acompanhei uma série de conversas naquele momento do pré-impeachment, e posso afirmar que essa discussão não houve, e que seria uma irresponsabilidade fazer esse tipo de conversa”.

Embora ache que a eleição presidencial de 2018 não deva entrar na pauta antes de 2017, ACM Neto voltou a indicar o tonitruante senador Ronaldo Caiado como pré-candidato do DEM, desta vez com maior ênfase, descartando seu próprio nome como possível postulante. “No Democratas, hoje, existe um consenso de que o nome dele é o que está mais bem colocado”, afirmou, deixando alguma margem de manobra.

Com aprovação entre 61% (Vox Populi) e 84,7% (Instituto Paraná), ACM Neto vai disputar a reeleição – seu vice é o peemedebista Bruno Reis, deputado estadual – contra a deputada federal Alice Portugal (PCdoB) e sua vice, a deputada estadual Maria Del Carmen (PT), apoiadas pelo governador Rui Costa (PT). Em 2012, Neto ganhou, no segundo turno, com 53% dos votos, do petista Nelson Pelegrino, apoiado pela presidente Dilma Rousseff, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Jaques Wagner. “Eu não acho que já ganhei reeleição, não, vou lutar muito para me reeleger”, disse. Sobre seu nome estar sendo citado como possível alvo de investigação da Operação Lava Jato, afirmou que o Democratas recebeu doações de empreiteiras envolvidas, parte delas transferida para suas campanhas, “mas tudo declarado e dentro da legalidade”.

Como o senhor está vendo o cenário político nacional, às vésperas da votação final do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e a poucos meses da eleição municipal? 

O momento é de muitas incertezas, e existe uma nuvem sobre o cenário político. Ao contrário do que normalmente acontece – entrar numa eleição já conseguindo enxergar perspectivas para a próxima – não se consegue enxergar nada do desenho mais provável para a próxima, a de 2018.

O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, do seu partido, antecipou a discussão sobre as eleições de 2018 dizendo que o presidente Michel Temer pode ser candidato à reeleição, se continuar no cargo e se estiver bem nas pesquisas. 

Não é hora de discutir 2018. O próprio presidente Michel Temer tem dito que não pretende ser candidato à reeleição, o que eu entendo ser uma posição correta, que distensiona muito o ambiente que existe ao redor dele. Esse tipo de especulação, neste momento, só traz dor de cabeça.

É uma crítica ao presidente da Câmara.

Não é. Eu respeito à opinião dele, que é meu amigo, e uma das poucas que da política se tornaram amigos pessoais. Eu compreendo a leitura que ele faz, admito que ele possa fazer, mas eu faço outra.

Um dos pontos da argumentação dele é que o presidente não tem de ficar refém de um suposto compromisso com o PSDB, por exemplo .. 

Ao que eu saiba, como já disse, não existe compromisso do presidente com nenhum partido. Quando chegar em 2018, como um ator político que terá relevância no processo, o presidente Temer vai se posicionar. E outros candidatos vão se colocar. No Democratas, eu defendo a pré-candidatura do senador Ronaldo Caiado.

O senhor não tem um pouco de medo daquele digamos arrojo do senador Caiado, aquela sombra que ficou do Caiado da UDR, do latifúndio? 

Não, de maneira alguma. O tempo ajudou a aperfeiçoar, a burilar. Ele é um sujeito muito preso às suas convicções, aos seus princípios, e isso hoje, na política, é importante.

Como é que o senhor se situa no espectro ideológico? Direita? Centro-direita?

Eu sou um político que tem uma visão social muito forte, e um compromisso com a eficiência e a qualidade na gestão pública. Em três anos, 76,5% da aplicação do orçamento da prefeitura foram feitos nas áreas pobres da cidade. A linha divisória hoje é entre o bom e o mau gestor – e não entre esquerda e direita, que são conceitos historicamente ultrapassados.

A principal crítica que a oposição tem feito ao seu governo, começando pelo governador Rui Costa, é justamente o pouco investimento no social…

Esse é o discurso deles – e não corresponde à realidade. A grande transformação que nós fizemos em termos de investimento público está na área social: 76,5%, ou R$ 3,2 bilhões dos recursos aplicados nos três anos, 2013, 2014, 2015, estão nas áreas pobres da cidade.

Na campanha de 2012 o senhor teve uma receita de R$ 21,9 milhões. E agora, que está proibida a doação das empresas, como é que vai ser? 

Neste ano a campanha vai ser muito mais barata, e isso vai acontecer no Brasil todo. Nós cortamos uma série de itens, de 50% para baixo, em comparação com a campanha passada.

Até quanto pode gastar? 

R$ 14 milhões. Mas não vou chegar a isso. Vou ser financiado com recursos do Fundo Partidário e doações de pessoa física. A minha situação é muito mais confortável do que a maioria dos candidatos para enfrentar essa eleição.

Por quê? 

Porque eu entro na eleição com um alto índice de popularidade, tenho o suporte do meu partido, vou conseguir recursos do Fundo Partidário, o que nem todos conseguirão.

Vai ser um caos – como já se tem dito? 

Se a Justiça Eleitoral estiver de fato instrumentalizada para fiscalizar o caixa 2, muita gente vai morrer na praia. Se não, nós poderemos ter o terceiro turno em muitas eleições, por causa de denúncias que vão surgir. De qualquer modo vamos ter de discutir como vai ficar isso depois. Hoje eu sou a favor do financiamento público, com as listas partidárias.

Seu nome tem aparecido entre as possíveis investigações da Operação Lava Jato.

Eu tenho absoluta tranquilidade e segurança sobre todas as minhas campanhas eleitorais, como elas foram conduzidas e o zelo que eu sempre tive. Não tenho nenhum tipo de receio ou de preocupação.

No ano que vem, o seu avô, Antônio Carlos Magalhães, o poderoso ACM, vai completar dez anos de morto. 

Apesar de nove anos da ausência, ainda é uma figura muito presente no imaginário popular baiano. À medida que o tempo passa, as recordações positivas ficam e eventualmente aquelas negativas, que geravam polêmicas e divergências, vão se apagando Sem dúvida, foi o maior político da Bahia de todos os tempos.

O que o senhor aprendeu a não fazer, com o seu avô?

Aprendi a não ser estourado. A ter muita paciência, contar até 10, 20, 30, cem. A não reagir no arroubo. Às vezes acontece, é natural de todo ser humano. Mas o exercício da paciência e o controle das emoções são um grande aprendizado. Ele era uma pessoa muito passional, que às vezes agia por impulso, e talvez exatamente por isso tenha acumulado inimizades que poderia não ter.

Quais são seus planos políticos para o futuro? Governador? Candidato a presidente em 2022?

Deixei de ter planos, exceto a curto prazo. O plano hoje é ser candidato a prefeito, se possível me reeleger, e continuar o meu trabalho. Aí, as circunstâncias do futuro vão ditar o que é que a gente pode desejar ou não.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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