Temer pede para suspender investigação e diz: “continuarei à frente do governo”

  • Por Jovem Pan
  • 20/05/2017 15h11
(Brasília - DF, 18/05/2017) Pronunciamento do Presidente da República, Michel Temer à imprensa. Foto: Isac Nóbrega/PR Isac Nóbrega / PR Nesta quinta-feira

Em seu segundo pronunciamento após a divulgação da delação da JBS, que motivou abertura de inquérito contra si por corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa, o presidente da República Michel Temer rebateu as acusações, desqualificou o delator Joesley Batista, dono da JBS que fez as gravações, e anunciou que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão da investigação “até que seja verificada em definitivo a autenticidade” do áudio, que classificou como “gravação clandestina”.

O advogado que tem acompanhado Temer, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, enviou ao STF pedido para o relator da Lava Jato no Tribunal, Edson Fachin, designar um especialista para apurar o áudio no qual ele foi gravado por Joesley Batista.

“Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos”, disse Temer. “Incluí-la no inquérito sem a devida e adequada verificação levou muitas pessoas a um engano indevido e trouxe grave crise ao Brasil”, afirmou o peemedebista.

Ouviu crimes

O presidente Michel Temer não negou que ouviu relatos de supostos crimes do dono da JBS em encontro às 23h, sem registros, no Palácio do Jaburu, sua residência oficial. O peemedebista alega, no entanto, que “não acreditou” quando Joesley Batista disse que mantinha dois juízes e um procurador sob controle.

“Não acreditei na narrativa do empresário de que tinha segurado juiz, etc”, diz Temer, chamando Joesley de conhecido “fanfarrão”. Temer cita o fato de que o próprio dono da JBS reconheceu, em sua delação, que blefava quando falava dos juízes. O procurador que seria o contato do empresário, no entanto, foi preso na Operação Patmos da Polícia Federal deflagrada após a divulgação de parte do conteúdo da colaboração. “(O relato de crime) era fanfarronice (de Joesley)”, classificou o presidente da República.

“Houve uma montagem e uma ação deliberada para criar um flagrante e incriminasse algum, enquanto todos os criminosos fugissem para o exterior em segurança”, completou Temer, criticando o fato de o dono da JBS ter sido autorizado a sair do Brasil e morar em Nova Iorque (EUA), após a delação. 

O advogado criminalista Mário de Oliveira Filho, que tem acompanhado Temer, foi ouvido pela Jovem Pan neste sábado e avalia que, se Temer ouviu relatos de crimes e não tomou providências, como não negou, ele cometeu crime de prevaricação. “Ao passo que a autoridade tenha o conhecimento de qualquer prática de ilícito, ela tem a obrigação de comunicar. Diferente do particular, que pode ou não”, explica Oliveira. “Aí há o crime de prevaricação e pode haver outras implicações que podem levar o presidente a uma situação complicada que pode levar o País a reboque”.

Temer também minimizou ter encontrado o empresário então já investigado na Lava Jato no porão do Jaburu tarde da noite. O presidente falou que trabalha até meia-noite e disse que “nada demais há nisso”. 

Críticas à JBS

Joesley “está livre e solto passeando pelas ruas de Nova Iorque”, ironizou Temer em outro momento do discurso, sem citar o nome do delator. “Ele não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, julgado ou punido. Cometeu, digamos assim, o crime perfeito”, avaliou Temer.

“Graças a essa gravação fraudulenta e manipulada, especulou contra a moeda nacional”, disse também. Segundo o presidente, o fato de a JBS comprar cerca de US$ 1 bilhão e vender ações da empresa dias antes do vazamento da delação já foi apurado pela Comissão de Valores Mobiliários, vinculada ao Ministério da Fazenda.

“Incoerência”

Em discurso orientado por advogados, Temer destacou o que chamou de “incoerências” entre o áudio e a delação de Joesley. “Quero observar as incoerências entre o áudio e o teor de seu depoimento. Isso compromete a lisura de todo o processo por ele desencadeado”, afirmou Temer.

“O que está no áudio demonstra que ele estava insatisfeito com o meu governo”, argumenta, citando reclamações do empresário da JBS sobre o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). “Isso prova de forma cabal que meu governo não estava aberto a ele”, afirmou Temer, negando que seu governo tenha atendido a solicitações do empresário.

“Não se sustenta, portanto, a acusação pífia de corrupção passiva”, defende-se o presidente. “Nada fiz para que ele (Joesley) obtivesse benesses no governo”.

“A presidente Maria Silvia moralizou o BNDES, botou ordem na casa, assim como Pedro Parente está fazendo na Petrobras”, defendeu.

Mala de dinheiro

Temer também comentou, mas brevemente, a acusação de Joesley de que indicou o deputado federal afatado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para receber propina e interceder a favor do empresário.

“Não há crimes em ouvir reclamações se indicar um interlocutor oara ouvir suas lamúrias”, disse Temer.

Poucos dias depois, Loures foi gravado pela Polícia Federal recebendo uma mala de R$ 500 mil.

“Brasil nos trilhos”

Temer disse que seu governo visa a “colocar o Brasil nos trilhos”. “Estamos completando as reformas para modernizar o Estado brasileiro. O meu governo tem rumo”, garantiu.

O presidente acusou a delação da JBS “tenta macular não só a imputação moral do presidente da República, mas tenta invalidar o nosso País”.

“O Brasil não vai sair e dos trilhos e eu continuarei à frente do governo”, disse o peemedebista investigado no final de seu discurso.

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