Tentação de usar regulamentação da mídia a favor do poder é muito grande, considera Cristovam Buarque
O novo presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado, Cristovam Buarque (PDT-DF), falou sobre a questão da regulamentação da mídia, uma das propostas do segundo mandato da presidente Dilma, e do clima político em Brasília. A entrevista foi dada ao repórter Thiago Uberreich, da Jovem Pan.
“Eu tenho muito medo da palavra regulamentação”, confessou Buarque. Apesar de poder ser com “boas intenções”, segundo o senador, “a tentação de usar regulamentação para interesses de quem está no poder é muito grande”.
“Na medida em que você começa a regular o que define a liberdade de imprensa, em pouco tempo você começa a regular o que interessa a quem está no poder”, entende Buarque, que não considera, porém, barrar a pauta na comissão que preside. “Se eu defendo a liberdade de imprensa, eu defendo a liberdade de debater a regulamentação.”
O senador do PDT diz recear “qualquer regulamentação além das que nós ja dispomos, que é a Justiça”, cuja função é “apurar tudo aquilo que é calúnia e cobrar multas, como a gente tem visto”. “A imprensa tem pago um preço alto pelos desvios que tem cometido”, avaliou.
Caminho político
Buarque não entende, no entanto, que um projeto de regulamentar a mídia seja enviado agora ao legislativo. “Eu não vejo nenhum projeto chegando dentro do Congresso Nacional”, observou. “Chegará se vier do poder executivo”.
Envolto, porém, em medidas econômicas que têm enfrentado forte oposição e com pouca base política, o Palácio do Planalto não deve priorizar o assunto no momento. “Sinceramente, na cabeça do governo, eu estranharia muito que esse assunto estivesse na agenda”, disse Buarque, citando o “descontentamento de todos com o programa de ajuste” e a “desconfiança generalizada da opinião pública em relação ao governo, que hoje faz um acordo diferente daquilo que prometeu”.
Governo “acéfalo”
Buarque também comentou o clima político atual e traçou um cenário de Brasília. “Há certa acefalia hoje no Brasil”, disse.
“A presidenta não parece ter nem consciência da realidade ao redor dela”, opinou, em relação ao discurso da presidente. “O discurso dela demonstra um certo distanciamento da realidade.”
O Legislativo não estaria em melhores condições. “O Congresso está tão perplexo, que as pessoas não percebem a perplexidade”, afirmou. “É muito preocupante o fato de termos um conjunto de parlamentares, inclusive os dois presidentes, das duas casas, sob suspeita”, disse ainda, em referência a Renan Calheiros (PMDB-Senado) e Eduardo Cunha (PMDB-Câmara).
A “acefalia”, segundo o senador, envolveria “falta de cabeça para pensar alternativas, falta de cabeça para liderar e falta de cabeça para agir dentro do marco legal”.
Ouça a entrevista completa no áudio acima.
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