USP: “o pior da crise financeira já passou”, acredita candidato a reitor

  • Por Jovem Pan
  • 26/10/2017 20h33 - Atualizado em 26/10/2017 20h33
Reprodução-IPTV USP Professor Ricardo Ribeiro Terra concorre ao cargo de reitor da USP Professor Ricardo Ribeiro Terra da FFLCH defende parcerias público-privadas para sanar as finanças da USP

Desde o último dia (23), a Jovem Pan tem realizado uma série de entrevistas com os principais candidatos a reitor da USP. A próxima gestão vai comandar a Universidade entre 2018 a 2022 e será escolhida pelo governador Geraldo Alckmin, após uma lista tríplice com os mais votados em eleição formada por cerca de 2 mil membros de um Colégio Eleitoral.

Candidato da Chapa 4, o professor Ricardo Ribeiro Terra, da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH), revelou que o pior da crise financeira, que consome quase 90% dos financiamentos para o pagamento de pessoal, “já passou. Além disso, ele também defende o aumento dos repasses oriundos do ICMS. “A gestão anterior a atual aumentou os gastos e contratou uma quantidade de funcionários e professores além do que poderia ter sido feito. Mas o essencial do ajuste financeiro já foi feito pela atual gestão. Se houver um pequeno aumento do ICMS no ano que vem já começamos a respirar”, disse o acadêmico.

Terra reafirma que a adoção de um PIDV ( Programa de Incentivo à Demissão Voluntária) foi necessária, uma vez que a situação de “90%” é impraticável. “Nós temos uma plano de sustentabilidade de metas que seria 85% da folha”, completou.

Atualmente, a USP conta com 60 mil graduandos, 35 mil pós-graduandos, 3 mil pós-doutorandos, 6 mil professores e 14 mil funcionários, o que equivale a menos de 1% da população do estado de São Paulo. “A Universidade não forma só profissionais, produz conhecimento e técnica. O impacto social-econômico da USP é difícil de ser medido”, defendeu.

Parcerias público-privadas

Terra defende que a Universidade precisa se abrir mais para a sociedade, para o estado e principalmente para o setor produtivo. “Boa parte da pesquisa poderia ser financiada com interação com a indústria. A USP tem que atrair bons laboratórios, fortes na indústria paulista, e fazer uma cooperação com o setor industrial. Também temos uma série de possibilidades de cursos para gestores”, frisou o candidato.

As alternativas apontadas por Terra são parcerias público-privadas e cobranças de mensalidade nos cursos de extensão. “A USP é gratuita e a Constituição garante a gratuidade nos ensinos de graduação e pós. Mas os cursos de extensão poderiam ser cobrados. Transferíamos conhecimentos às empresas e prefeituras”, projetou.

“Não existe Universidade de pesquisa no mundo que não tenha investimento estatal, mas não precisa ser apenas o investimento estatal. Além de controlar os gastos, com uma gestão eficiente, a USP pode sim ampliar seu campo de procura de recursos”, completou o professor da FFLCH.

Creche não é questão social

O fechamento das creches da Cidade Universitária tem sido alvo de críticas, porém o professor Ricardo Ribeiro Terra reitera que a questão não está atrelada à causa social, uma vez que a Universidade paga o auxílio-creche aos seus servidores. “É necessário que a Universidade tenha creches para pesquisas. Mas o valor pago por estudante várias vezes é o mesmo valor que os pais recebem. Portanto, não é uma questão social. Essa já é resolvida pelo auxílio-creche. A missão da Universidade é em fim de pesquisa”, argumentou.

Reforma do Museu

Fechado desde 2013 para obras de restauro, o Museu Paulista, o Museu do Ipiranga, enfrenta dificuldades principalmente por conta da escassez de recursos, entretanto o professor da FFLCH rechaça qualquer possibilidade de “comprometer” o orçamento para reformas.

“O Museu do Ipiranga está vinculado à história do Brasil. Como é um prédio antigo o custo de manutenção é enorme. O que está se tentando fazer é conseguir auxílios privados para a grande reforma. O Museu é fundamental para a Universidade, mas não podemos fazer dívidas para reformá-lo. Teríamos que ter apoio federal e estadual e não tirar do orçamento”, frisou.

Queda no ranking não preocupa

A queda no ranking de Melhor Universidade da América Latina, segundo a revista Times Higher Education também é minimizada por Terra, que assim como os demais candidatos, enaltece o posicionamento da USP em outras listas. “Em um nós perdermos, mas no ranking mundial estamos em primeiro, longe da América Latina. Temos que comprar o que está sendo avaliado em cada um. Se a USP perdesse lugares em todos, eu concordaria que haveria um grande problema”, ponderou o professor Ricardo Ribeiro Terra.

O professor destacou ainda que é preciso um “olhar” macro para outras Universidades. “Se olharmos o mundo, as Universidades asiáticas estão crescendo em qualidade de maneira muito mais rápido do que as universidades latino-americanas. Estamos ficando para trás. Aí é grave”, admitiu.

“A tecnologia de ponta virá das Universidades de ponta. Uma universidade asiática e uma Universidade russa caminham para as 40 melhores do mundo, enquanto nós estamos lá em 200. Vemos a Coreia, a Rússia e a China indo de maneira mais rápida”, completou.

Estado tem que pagar o HU

Sobrecarregado por conta de 6 milhões de atendimentos que abrangem toda a região do Butantã, o Hospital Universitário (HU) enfrenta um grande gargalo e tem perdido o caráter principal que é de Hospital-Escola. Para Terra a solução seria repassar os custos ao estado, assim como ocorre no Hospital das Clínicas (HC) e no Incor.

“Quem paga o HC e o Incor? O estado. Então porque a USP tem que pagar os gastos de um Hospital que atende a comunidade da região? Não faz sentido. O razoável é ter um Hospital pago pelo estado e coordenado pela Faculdade de Medicina. O HU tem que continuar Hospital-Escola, mas pago pelo estado e não pela USP”, explicou.

“No ano que vem vamos ter que começar a repor técnicos e funcionários. Vamos contatar um novo professor para a Faculdade de Medicina ou um médico para o HU?, indagou o candidato da Chapa 4.

“Com a limitação de recursos nós vamos ter que tomar decisões que precisam ser em fim de pesquisa e não para atendimento médico à população”, revelou.

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*Com informações da repórter Carolina Ercolin 

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