Vamos repactuar internamente a USP, garante candidata a reitora

  • Por Jovem Pan
  • 24/10/2017 18h59 - Atualizado em 26/10/2017 15h32
Reprodução/Facebook Diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda reconhece que a crise na USP é estrutural

No próximo dia 30, o governo do estado vai escolher o novo reitor da USP. A nomeação sairá da lista tríplice que vai trazer os potenciais candidatos ao cargo de reitor e vice-reitor. A Jovem Pan acompanha a situação na Universidade e faz uma série de reportagens para ouvir as propostas e ideias dos concorrentes ao pleito. A diretora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Maria Arminda do Nascimento Arruda, foi a mais votada na consulta pública online, realizada na última segunda-feira (23), com 3.749 votos, seguida pelo professor Ildo Luís Sauer (2.300 votos). Mas o resultado simbólico não impacta diretamente na escolha.

Em declaração à Jovem Pan, Maria Arminda afirmou que a primeira medida a ser tomada, caso eleita, é repactuar internamente a USP pensando coletivamente nas questões da universidade. “A questão de financiamento não é exclusiva da USP. A Unesp e a Unicamp também enfrentam o mesmo problema e outras universidades públicas também. Vamos desenvolver ações em conjunto com as nossas co-irmãs a partir de um conserto interno com a comunidade da USP. O que pressupõe renegociar com as instituições públicas as nossas questões e mostrar a importância que essas universidades têm para o sistema científico e cultural do Brasil”, explicou.

Crise estrutural

A diretora da FFLCH relembrou que, desde 1995, a USP lida com o mesmo universo de recursos. O que impacta na arrecadação e no orçamento, entretanto a crise de financiamento é estrutural e resulta do extremo crescimento das universidades. “A USP cresceu em número de vagas para a graduação, em 12 anos, cresceu 80%, na pós-graduação mais de 120% e ampliou em 135% o número de cursos”, afirmou.

“Trabalhamos com esse crescimento e com menos professores. Nós últimos três anos perdemos mais de 400 professores, sobretudo em tempo integral, e perdemos mais de 1000 funcionários. Isso significa que vamos ter que repensar em conjunto com a Unicamp e a Unesp em propostas para enfrentar a nossa crise de financiamento”, completou.

Segundo Maria Arminda, a crise é estrutural apesar de a conjuntura ter agravado o problema.

Parcerias e alternativas de financiamento

A USP vive com exclusivamente com orçamento público, que é cota-parte na arrecadação do ICMS do Estado de São Paulo. Mesmo com a redução dos repasses por parte do governo do Estado, a candidata rechaça a cobrança de mensalidades. “Nenhuma universidade do mundo vive com pagamentos de mensalidades. Sabemos disso, mas porque não se pode encontrar parcerias com instituições públicas para se desenvolver as pesquisas? Os cursos pagos na extensão já são reconhecidos na USP. Mas isso não é uma medida nova”, reiterou Maria Arminda, que também já atuou como pró-reitora da área de cultura e extensão entre 2010-2015.

Quadro de pessoal

Os custos com folhas de pagamentos consomem quase que 90% dos repasses à USP. Mesmo com os cortes promovidos pela atual gestão, o desequilíbrio financeiro ainda não está resolvido. “Perdemos mais de 400 professores e mais de 3.500 funcionários, o que impactou na qualidade dos cursos. A Unicamp e a Unesp não tomaram medidas semelhantes e não estão em uma situação melhor”, comparou Maria Arminda.

“A crise no financiamento não é ‘exclusividade’ da USP e sim um problema estrutural. Porque senão seria exclusivo de uma Universidade que contratou e ampliou salários e nada disso aconteceu nas outras, completou.

Quando indagada qual o caminho para manter o quadro de colaboradores a candidata é direta: “é repactuar as relações com os poderes públicos de forma a envolver as outras duas universidades, buscar formas de orçamentos de pesquisa e parcerias. É só com uma repactuação externa e com um entendimento com os órgãos públicos que poderemos encontrar formas de resolução ou pelo menos de equacionamento das nossas questões. Ninguém ainda resolveu o problema de equilíbrio orçamentário”.

Alternativas para os equipamentos

Três pilares da USP também enfrentam séria crise. Uma das creches dentro da Cidade Universitária precisou ser fechada por conta da falta de verbas, enquanto o Hospital Universitário (HU) limitou os atendimentos durante a madrugada e o Museu Paulista, o famoso Museu do Ipiranga, está fechado desde 2013. Maria Arminda do Nascimento Arruda ressaltou que é preciso apostar em alternativas. “Uma universidade que tem os cérebros como a USP consegue encontrar internamente a saída”, revelou.

– Creches
“As creches participam de 0,5% não do orçamento total da universidade. De uma parte que se chama atividades integradas, que envolve segurança e um conjunto de itens. Desta parte que não é orçamento total, as creches têm 0,5% é muito pouco e não impactam nada. As creches são também centros de pesquisa e sobretudo expressões de direito da família, da criança e das mulheres. Uma universidade tem o compromisso com a educação numa sociedade tão desigual como a nossa”, frisou.

– Hospital Universitário

De acordo com a candidata da Chapa 2, o HU sempre foi um Hospital Escola modelo, ligado a atividades secundárias e que não pode perder a principal característica que a formação. “A solução não é transferir e integrar unidades. É buscar parcerias com o município e os governos para que o Hospital possa responder integralmente às suas funções. Mas mantendo a gestão da universidade porque o sentido do Hospital é definido para a formação de novos profissionais”, admitiu Maria Arminda.

– Museu Paulista

Questionada sobre a situação do Museu Paulista, a diretora da FFLCH afirmou que a expectativa é reabrir o local em 2022, ano do centenário da Independência. “Espero quem 2022 ele já esteja pronto. Se nós conseguimos abrir nessa data será um grande êxito. Mostra que precisamos de intervenções dirigidas para essas áreas”, resumiu.

Queda no ranking

Recentemente, a Revista Times Higher Education revelou que a USP perdeu o posto de melhor universidade da América Latina. Para a candidata a reitora a “queda” foi resultado de inúmeros cortes “horizontais” que priorizaram apenas as áreas que implicavam custos. “Foram medidas tomadas de maneira a não levar em consideração toda essa diversidade. De fato, a USP está perdendo posições e isso precisa ser pensado coletivamente pela comunidade uspiana”, finalizou.

*Com informações da repórter Carolina Ercolin

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