Embora popular, venda de cigarro eletrônico é proibida no Brasil

Fabricantes o apresentam como opção “menos tóxica” do que o convencional, mas especialistas questionam

  • Por Jovem Pan
  • 19/09/2019 14h25 - Atualizado em 19/09/2019 14h25
Pixabay vape O dispositivo funciona como vaporizador

Apesar de ter se popularizado nos últimos anos, a venda de cigarro eletrônico – conhecido como vape – é proibida no Brasil desde 2009, conforme resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A comercialização ilegal acontece especialmente na internet e no comércio popular das grandes cidades.

Desde 2017, a agência determinou a retirada de 727 anúncios online do produto. Esse cigarro, comum na Europa e nos Estados Unidos, virou alvo de autoridades de saúde americanas após o registro de sete mortes que podem estar ligadas ao seu uso. A Anvisa tem feito uma série de audiências públicas para coletar informações e definir se mantém o veto.

O dispositivo funciona como vaporizador. O cartucho armazena nicotina líquida, água, aromatizantes e substâncias químicas, como glicerina e propilenoglicol, que conduzem a nicotina até o pulmão do usuário.

Ele ganhou espaço no mercado estrangeiro ao ser apresentado ao público, pelos fabricantes, como opção “menos tóxica” do que o produto convencional, mas especialistas dizem que isso não é verdade.

“O eletrônico também causa dependência. Preocupa existirem milhares de sabores catalogados, o que atrai muitos jovens”, diz Alberto Araújo, pneumologista e presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB).

Um cartucho equivale a 15 cigarros comuns

Segundo Araújo, estudos nacionais já mostraram que, em 2015, 0,38% dos brasileiros entre 12 e 24 anos usaram cigarro eletrônico. “Os antigos dispositivos imitavam cigarros e eram descartáveis, mas agora já há em formato de lápis, batom, caneta e até pen drive. Jovens fazem misturas e usam quantidades perigosas, que ficam tóxicas quando misturadas com óleo e acetato de vitamina E. Colocam nicotina e Cannabis (a planta da maconha)”, alerta.

Um cartucho equivale, em média, a 15 cigarros comuns. “A nicotina é rapidamente absorvida e os jovens sofrem abstinência severa”, diz. O acetato de vitamina E não é recomendado para ser inalado. Ao entrar no sistema de vaporização, ele carrega gordura para o pulmão, podendo causar pneumonia rara.

Essa é a suspeita do que pode ter ocorrido com os jovens mortos nos Estados Unidos. Segundo o jornal The New York Times, o número de pessoas com doenças pulmonares graves internadas associadas ao dispositivo já passa de 450 e atinge principalmente jovens saudáveis. Conforme a Pesquisa Nacional da Juventude dos EUA, em 2017 mais de 2 milhões de alunos do ensino fundamental e médio eram usuários regulares do cigarro eletrônico. Em 2018, atingiu mais de 3,6 milhões. O presidente Donald Trump estuda banir o cigarro eletrônico.

Miguel Chatkin, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, observa que o fato de não haver número robusto de estudos que demonstrem riscos não significa que seja seguro. “É só comparar com cigarro (comum). Quanto tempo foi necessário para que os malefícios se tornassem públicos e reconhecidos?”. Ele lembra que várias substâncias podem estar no vapor, como óleos, aditivos, pesticidas e até metais pesados.

*Com Estadão Conteúdo

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