Vendas pela internet podem facilitar fraudes na Black Friday; veja como evitar

Durante a pandemia, mais de 150 mil lojas aderiram às vendas pelo comércio eletrônico; especialistas dão dicas de como não cair em golpes

  • Por Camila Corsini
  • 23/11/2020 10h00
Pixabay Homem navega em computador em um local escuro Neste ano, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), a expectativa é de R$ 69,9 bi de faturamento com a BF

A Black Friday de 2020 acontece na próxima sexta-feira, 27. A data, tradicional nos Estados Unidos, já virou sucesso pelo Brasil há alguns anos — assim como os golpes financeiros, cada vez mais aprimorados e recorrentes. Ela já é uma das datas comemorativas mais lucrativas para o comércio, junto do Natal e do Dia das Mães. Neste ano, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), a expectativa é de R$ 69,9 bilhões de faturamento, cerca de 77% a mais que o registrado no ano passado. Por conta da pandemia, são esperadas que as grandes filas e superlotações já conhecidas das lojas deem lugar para o e-commerce. Segundo a ABComm, desde o início da pandemia até setembro, mais de 150 mil lojas aderiram às vendas pelo comércio eletrônico. Com isso, cresce também a atenção com as fraudes. Afinal, como se prevenir de golpes nas compras online e garantir que esse momento não vire uma dor de cabeça?

Compre em sites que você conheça

A recomendação parece óbvia, mas dê preferência para compras em sites já conhecidos. De acordo com o perito especialista em crimes cibernéticos José Milagre, o criminoso consegue criar sites que aparentam ser confiáveis rapidamente. “Quando o consumidor faz a compra, o site é tirado do ar e a conta do comprador é desfalcada. Nesse período, as atenções se voltam para o online e o furto de dados com o objetivo de lesar a vítima”, explica. “O criminoso digital é mais criativo do que técnico. Ele aproveita grande momentos de comoção e curiosidade para criar novos meios de fraudar as vítimas.”

Entre as principais dicas estão o cuidado com lojas hospedadas no exterior, que não possuem política de privacidade, não têm endereço físico, que tem CNPJ registrado em nome de pessoa física ou que só aceitam pagamento via transferência ou boleto. Uma boa forma de conferir se uma loja existe e é confiável é buscando em sites de avaliação, como o Reclame Aqui, e a lista oficial do Procon SPA advogada e especialista em Direito do Consumidor Ellen Gonçalves complementa. “Os consumidores migraram para o online, mas os fraudadores também. Deve-se procurar sites que já sejam conhecidos, que já tenham feito compras. A gente acaba fidelizando alguns sites.”

Desconfie do tamanho do desconto

Como o objetivo principal dos fraudadores é obter senhas e dados financeiros dos clientes, é comum que eles utilizem as técnicas mais variadas possíveis para isso. “Uma abordagem que merece atenção é a por WhatsApp e outros aplicativos. Eles enviam um link, prometendo cupom de desconto, e direcionam o consumidor para páginas falsas que simulam a identidade visual das marcas. Nessa, ele acaba fornecendo dados do cartão e senhas”, exemplifica Milagre. Porém, os preços baixos ainda são a principal isca usada.

“O estelionato digital vai de perfumaria até leilão. As ofertas acabam surgindo com um gatilho de curiosidade e acabam na perda de dinheiro. É preciso tomar cuidado com descontos absurdos. Embora seja Black Friday, descontos de 85% e 90% são estranhos. Sempre pesquise a média de preços antes, porque o criminoso vai usar isso para chamar a sua atenção”, completa. Ainda no âmbito dos descontos, confira sempre o valor total da compra. Algumas lojas não calculam frete ou despesas adicionais e omitem o valor real para o cliente. “Verifique sempre se a empresa tem política de pós-venda, respeita o direito do arrependimento e oferece garantia dos produtos e para trocas”, destaca o diretor-executivo do Procon de São Paulo, Fernando Capez.

Fique atento aos seus dados

Sempre que fizer uma compra online, faça todos os registros possíveis: guarde comprovante, protocolos, tire print da tela e não delete e-mail. Tudo isso pode ajudar na investigação após um possível golpe, com base no Marco Civil da Internet. Se você suspeitar que o site que visitou é falso, o recomendado é alterar todas as senhas de e-mail e aplicativos bancários. “Importante destacar que estaremos na primeira Black Friday com a Lei Geral de Proteção de Dados. Cuidado com lojas que pedem mais dados do que o necessário: nome, endereço, e-mail, CPF. Os dados mínimos para que você possa comprar e receber”, alerta José Milagre. Pela LGPD, o consumidor pode pedir para que a loja exclua os dados após a compra. Ellen Gonçalves explica que, com a LGPD, as relações de consumo estão mais seguras — isso sem contar o Código de Defesa do Consumidor e a Lei do E-commerce. “Tudo isso traz direito ao consumidor. Temos um cenário hoje em que temos que ficar mais atentos porque temos mais gente no ambiente online e isso envolve mais dados pessoais. As empresas precisam redobrar a atenção e aumentar a capacidade dos canais de atendimento.”

Evite comprar por boleto

Uma outra dica indicada pelo perito especialista em crimes cibernéticos é sempre avaliar as formas de pagamento disponíveis e, se possível, jamais optar pelo pagamento em depósito de criptomoeda ou boleto bancário — modalidades mais difíceis de rastrear porque disponibilizam o valor para os criminosos na hora. Para quem faz uso do cartão de crédito, prefira o uso do cartão virtual — que pode ser gerado um diferente para cada compra. A maioria dos bancos já disponibiliza essa opção pelo internet banking.

Tomou cuidado e mesmo assim caiu no golpe?

Se mesmo tomando todos os cuidados não foi possível evitar um golpe, é importante tomar as medidas necessárias o mais rápido possível. Caso alguma quantia financeira tenha sido roubada ou extraída da conta, faça contato com o banco ou com a operadora do cartão para solicitar estorno ou bloqueio de pagamento. É recomendado também a realização de um Boletim de Ocorrências em delegacias especializadas para apurar a autoria do crime. Se preferir, o consumidor pode recorrer à Justiça com a ajuda de um advogado. Caso seja certificado ou existam dúvidas de que a loja não existe, o diretor-executivo do Procon de SP, Fernando Capez, ressalta a necessidade de fazer uma reclamação eletrônica imediatamente para que a empresa seja acionada. Se o estabelecimento não for real, o Procon entra em contato com a Divisão de Crimes Contra o Consumidor e aciona a Polícia Civil para uma eventual investigação.

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