Brasileira relata Paris deserta e preocupação da mídia francesa em “não ser racista”

  • Por Jovem Pan
  • 14/11/2015 15h09
EFE Luva de plástico deixada em frente ao Bataclan

Os múltiplos atentados terroristas ocorridos na sexta-feira transformaram Paris, uma cidade movimentada que costuma ter muitas pessoas na rua, em um deserto. Essa e a impressão transmitida por Louise Krieger, brasileira que mora na capital francesa há cinco anos. Ela contou à Rádio Jovem Pan como está o clima da cidade no dia seguinte à tragédia e como tem sido a cobertura da mídia francesa sobre os ataques.

“Hoje de manhã, ao olhar pela janela, não vi ninguém na rua. Os serviços públicos estão fechados. Eu trabalho num teatro de Paris, e a primeira notícia é que foi tudo anulado e, como eu falei, a prefeita decretou 48 horas de ficar em casa. Então ninguém sai de casa hoje e amanhã”, disse Louise. “É um deserto, não tem ninguém, você às vezes vê a cabeça de alguém que também olha pela janela. A gente quer que o mais rápido possível a polícia e os serviços especializados consigam saber quem foram essas pessoas, quem foram os terroristas”.

A brasileira comparou o clima da atual tragédia com os ataques à redação da revista Charlie Hebdo. “Faz cinco anos que eu moro em Paris, então eu estava aqui no Charlie Hebdo. Foi um pouco diferente, eu acho, porque daquela vez estávamos muito chocados. Foi num lugar que é um símbolo, então a gente conseguiu entender por que os terroristas foram lá, compreender o ato. Desta vez, os caras simplesmente saíram atirando para todo lugar, em qualquer pessoa. Tenho amigos que estavam em bares próximos e eles falaram que todos os bares fecharam as portas, e eles ficaram por até três horas lá dentro até ter notícias. Eles não sabiam se estavam na mira ou não. Qualquer pessoa poderia ser prejudicada nessa situação”, analisou.

Em relação à cobertura da mídia francesa, Louise Krieger relatou certo temor de ligar os atentados ao povo islâmico e as consequências disso. “É diferente aqui porque a mídia parece ter medo de falar alguma coisa que pareça racista ou que pareça ‘além do fato’. A diferença que eu sinto aqui, como brasileira, é que a mídia nunca quer se molhar, falar além das coisas que acontecem. Ontem mesmo, a primeira coisa que vem na cabeça quando se pensar em ataque terrorista é terrorista islâmico, é inconsciente, sabemos que as tropas francesas estão combatendo o Estado Islâmico. Mas parece que é proibido, parece que o país tem um medo assim de falar além da conta e acabar tendo outras consequências”, afirmou.

“Para a mídia não importa o fato de que sejam islâmicos. Acho legal essa preocupação, mas, por outro lado, é um posicionamento muito neutro, e acaba que medidas mais rigorosas que deveriam ser tomadas não o são. É minha opinião mesmo, até porque, como brasileira, a gente vê diferente. Aqui é uma outra cultura, eles têm medo de ser racistas, mas não é uma questão de raça, nem de discriminação. É uma questão de um grupo religioso, que está ligado a uma religião que está muito presente aqui na França. Mas como o lema aqui é igualdade e fraternidade, a gente tem que acolher a todos. Acho que as medidas tinham que ser mais fortes para poder combater isso com mais coragem e mais rapidez”, concluiu a brasileira.

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