Brasileiro radicado em Israel conta como é viver a 7 km da Faixa de Gaza: “Os bombardeios não param”

  • Por Jovem Pan
  • 21/07/2014 11h26
EFE Vista geral do bairro de Al Shejaeiya

Brasileiro que mora há 34 anos em Israel, em um kibbutz a 7 quilômetros da Faixa de Gaza, Nathan Galkowicz relata como é o cotidiano de quem vive tão próximo de um dos conflitos mais latentes do momento, que já deixou 500 palestinos e 20 israelenses mortos. “O sofrimento dos dois lados é muito intenso e eu acho que, antes de melhorar, vai piorar bastante”, avalia Galkowicz.

“As pessoas são proibidas de andar nas ruas; nós estamos dentro de abrigos antiaéreos, e isso é em todo Israel”, relata Nathan em entrevista ao repórter Jovem Pan Anchieta Filho. “Você tem cerca de 5 milhões de pessoas que não estão trabalhando, não têm escola, está tudo fechado”, diz o judeu brasileiro ao Jornal da Manhã.

Nathan, que perdeu a filha em 2005 vítima de míssil do Hamas, relata ainda o medo por que passam os habitantes da região do lado israelense. “O principal efeito aqui é o pós-traumático. Porque quando uma bomba cai a 20 metros de você, isso te deixa uma marca para o resto da vida, é uma coisa muito, muito forte, muito poderosa e, normalmente, é por pouco que não te pega, é bem perto. No caso da minha filha, não foi perto, foi direto”, lamenta.

Radicado em Israel desde 1980, no Kibbutz Bror Hayil, onde moram cerca de 500 brasileiros, Nathan não vê uma resolução próxima do conflito, culpa a inércia do Governo e a política do Hamas. “Lamentavelmente as populações estão sofrendo muito e eu acho que isso é incompetência do governo em sentarem numa mesa e entrarem em um acordo”, diz.

“Nós, os judeus, não odiamos os palestinos e os palestinos, como povo, tampouco odeiam a gente”, garante Nathan. “As agendas é que são diferentes e, se a Hamas gastasse menos dinheiro fazendo túneis e investisse mais no bem estar da população deles, com o dinheiro que eles recebem do mundo, a situação seria completamente diferente”, projeta.

O brasileiro ainda acusa o braço armado do partido sunita que comanda a Faixa de Gaza de não contribuir com o cessar-fogo, que foi requisitado de maneira imediata pela ONU, mas descumprido. “Duas vezes a Cruz Vermelha pediu para parar o fogo para poder distribuir água e comida para os palestinos. Israel concordou e, nas duas vezes, depois de 20 minutos, os palestinos, não os palestinos, a Hamas mandou vários bombardeios de mísseis. Os seja, eles mesmos contribuem para que os palestinos sofram mais”, conta Nathan.

O habitante da comunidade coletiva israelense (kibbutz) afirma que os bombardeios ainda são constantes e se intensificam principalmente de noite. Diferente do lado palestino, porém, ainda não lhes falta os suprimentos básicos, como comida e água. “Israel está mais organizado do que os palestinos”, explica. “Não falta nada. A única coisa que falta é a paz”, conclui.

“E uma guerra que não tem fim, é uma guerra religiosa, é uma coisa que vai muito mais longe do que o conflito atual, é uma questão de algumas centenas de anos e acho que, lamentavelmente, vai demorar algumas gerações para ser resolvido esse conflito”, declara também Nathan Galkowicz.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.