Busca da paz supera obstáculos e marca agenda política da Colômbia
Jaime Ortega Carrascal.
Bogotá, 19 dez (EFE).- As negociações de paz do governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em Cuba dominaram a agenda política colombiana este ano, superaram seu mais duro empecilho até agora e foram decisivas na reeleição do presidente Juan Manuel Santos.
Os diálogos completaram dois anos em 19 de novembro em meio a uma grave crise detonada pelo sequestro do general do exército Rubén Darío Alzate. A ação levou o presidente a suspender a negociação, mas o ano fecha com a reativação do processo e um anúncio de cessar-fogo unilateral indefinido por parte das Farc.
“O processo deve entrar agora na reta final. É o que merecemos como sociedade e é a maneira de responder às vítimas e aos milhões de colombianos que estão neste esforço”, declarou na última quarta-feira o chefe negociador do governo, Humberto de la Calle, no fechamento do 31º ciclo, o último do ano.
As conversas, que em seu primeiro ano produziram acordos em dois dos cinco pontos da agenda, em assuntos referentes a terras e participação política, estiveram neste ano amarradas ao processo eleitoral colombiano, que ao mesmo tempo se viu atado ao desenvolvimento dos diálogos, abalados por denúncias de espionagem aos negociadores, supostamente por parte de opositores.
Na campanha para as eleições legislativas e para as presidenciais, a paz teve um protagonismo que nunca tinha alcançado e foi decisiva para a reeleição do chefe de Estado para o período 2014-2018.
Santos apostou todo o seu capital político no projeto da paz e, embora não tenha condicionado a continuidade do diálogo com as Farc a sua vitória nas urnas, sua defesa de uma solução negociada atraiu no segundo turno os votos da maioria da esquerda e de movimentos sindicais e sociais.
Com a bandeira da paz e pombas em sua lapela, o presidente conseguiu a reeleição em um apertado segundo turno em 15 de junho, na qual obteve 7,8 milhões de votos (50,95%), contra os 6,9 milhões (45%) de seu rival, Óscar Iván Zuluaga, que tinha prometido suspender os diálogos e retomá-los apenas com novas condições à guerrilha.
Em plena campanha, o governo e as Farc anunciaram um acordo no terceiro ponto da negociação, referente a drogas e cultivo de produtos ilícitos, e após um recesso pelas eleições, retomaram em agosto os diálogos sobre vítimas, um dos temas mais espinhosos do processo.
Em uma decisão inédita, as partes decidiram abrir um espaço para escutar representantes das mais de 6,5 milhões de vítimas que o conflito armado deixou. Assim, cinco delegações, cada uma de 12 pessoas, viajaram a Havana para repassar aos negociadores seus pedidos de verdade, justiça e garantia de que fatos semelhantes não voltarão a acontecer.
A seleção destas delegações, a cargo do Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) na Colômbia e da Universidade Nacional, não esteve isenta de polêmica por parte de setores que disseram não sentir-se representados, outra mostra da polarização perante o processo de paz que, segundo uma pesquisa do começo deste mês, tem um apoio popular de 38%.
À complexa negociação foi acrescentado o sequestro do general, feito refém pelas Farc em 16 de novembro quando visitava – vestido como civil, desarmado e sem seguranças – a região de Mercedes, no departamento de Chocó, no oeste do país, na companhia do cabo Jorge Rodríguez e da advogada Gloria Urrego.
Este sequestro suspendeu a continuidade dos diálogos, mas as boas atuações de Cuba e Noruega, fiadores do processo, e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), facilitaram a libertação dos três e o reatamento das conversas.
No fechamento do último ciclo do ano as Farc, que insistem em sua proposta de um cessar-fogo bilateral no meio do diálogo, surpreenderam com o anúncio do silêncio unilateral dos fuzis antes do Natal, uma medida que embora bem-vinda gera outra polêmica porque condiciona sua duração a que as forças do Estado não empreendam ações contrárias.
Após o recesso natalino, as partes retomarão, em meados de janeiro, o diálogo sobre vítimas e, uma vez concluído, seguirão com o tema do fim do conflito, último da agenda.
O processo tem o apoio firme da comunidade internacional e o governo espera chegar a um acordo definitivo em 2015, se possível, antes das eleições municipais de outubro, para evitar que a paz seja outra vez motivo de disputa política. EFE
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