Cabeleireiro israelense inventa quipá invisível para evitar antissemitismo

  • Por Agencia EFE
  • 24/01/2015 10h28
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Elías L. Benarroch.

Jerusalém, 24 jan (EFE).- Movido por recentes atos antissemitas, um cabeleireiro israelense projetou um “quipá invisível” para que os fiéis possam levar o tradicional solidéu judeu fora de Israel com discrição.

A invenção, comercializada online como “o quipá mágico” (youtube.com/watch?v=KmxWorZpTw4), foi criada há alguns meses pelo cabeleireiro Shalom Koresh, de 48 anos, mas ganhou relevância depois da morte de quatro judeus franceses que foram reféns de um ataque a um mercado kosher em Paris no último dia 9.

O alerta que o ataque gerou em toda a Europa levou a comunidade a extremar as medidas de segurança em seus centros escolares e de culto embora haja vários judeus praticantes que há vários anos deixaram de usar o quipá por terem receio de serem agredidos pela rua não vestem o distintivo objeto religioso.

“Sempre ouvia que muitos judeus europeus não podem carregar seu quipá na rua ou no trabalho, e um amigo meu banqueiro até comentou que alguns clientes não se aproximavam ao vê-lo com ele”, explicou hoje à Agência Efe este cabeleireiro de 48 anos da cidade de Rehovot, no sudeste de Tel Aviv.

A invenção despertou especial interesse entre os judeus da França e da Bélgica, onde Koresh contou que seus agentes comerciais receberam vários contatos de interessados.

Ele reconheceu que a ideia começou a surgir muito tempo antes, quando alguns clientes israelenses de sua barbearia sugeriram, “meio de piada, meio a sério”, que fizesse algo para que pudessem dissimular o quipá em suas viagens ao exterior.

Ele pôs as mãos à obra e, após estudar a fundo o assunto durante meses, chegou à conclusão que o melhor era um “quipá peruca”.

O resultado foi um solidéu aderente de cabelo, que já começou a ser fabricado tanto com material sintético como do próprio cliente, e cuja patente está sendo registrada estes dias.

“Podem comprá-lo de uma ampla gama de cores de fios sintéticos ou nos enviar seu próprio cabelo para que façamos sob medida”, afirmou o inventor, que se declara pessoa conservadora, mas não religiosa.

Para provar a efetividade, Koresh fez um solidéu com seu próprio cabelo e o usou durante seis meses enquanto seus clientes mais frequentes entravam e saíam da barbearia sem fazer nenhum comentário.

“Ninguém via. Simplesmente era invisível!”, afirmou.

O inconfundível costume judaico de cobrir a cabeça nas cerimônias religiosas remonta a mais de dois mil anos, mas a prática de fazê-lo na rua se estendeu depois de o cabalista Yosef Caro, nascido em Toledo (Espanha) e radicado em Safed (Galileia), escrevesse sua célebre compilação de leis judaicas: o “Shuljan Aruj” (1565).

Em uma mais do que estrita interpretação dos preceitos bíblicos de mostrar sempre “temor a Deus, assumir a modéstia e a piedade como formas de vida”, o erudito sentenciou que o homem “não deve caminhar mais de quatro cotovelos com a cabeça descoberta”.

Desde então, o design do quipá evoluiu no judaísmo segundo cada grupo religioso e social – variam em tamanho, cor e tecido, mas sempre com o denominador comum que constitui seu distintivo visível nacional e religioso mais importante.

“Não é qualquer objeto: É um símbolo! E quando um pai se vê obrigado a tirá-lo por medo de ser agredido, transfere com isso a mensagem a seu filho que a quipá não tem nenhuma relevância”, explicou o cabeleireiro.

Sob o slogan de “mágico, invisível, indetectável” e preço entre 49 e 79 euros (entre 20 e 40 vezes superior ao de um solidéu comum), Koresh garantiu oferecer “uma solução discreta e, sobretudo, que respeite as leis religiosas”.

No entanto, e a julgar pelas reações nas redes sociais, nem todos concordam com seu benefício, e alguém até brincou nos chats que poderiam inventar agora a “circuncisão invisível”, o símbolo mais importante desta religião.

Moses Anahory, um advogado britânico que em seus deslocamentos por alguns países europeus costuma ocultar seu quipá com um boné de beisebol, concordou que a invenção, por mais original que seja, não é nenhuma solução ao problema do antissemitismo.

“Para ocultá-lo, talvez seja melhor não usá-lo. A essência do quipá é precisamente mostrar os valores que representa, e no século XXI devemos poder fazê-lo com liberdade e em plena segurança”, declarou ele à Agência Efe. EFE

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