Califado do EI completa um ano assentado na instabilidade de Síria e Iraque

  • Por Agencia EFE
  • 28/06/2015 17h03

Shaalan Jabouri/Susana Samhan.

Bagdá/Beirute, 28 jun (EFE).- O autoproclamado califado do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que na segunda-feira completará seu primeiro aniversário, emergiu na Síria e no Iraque se aproveitando da instabilidade e dos conflitos em ambos os países, onde os jihadistas aplicam a lei do terror no território que dominam.

Essa organização, de tendência radical sunita, avançou rapidamente pelos dois países até conquistar áreas que vão da província síria de Aleppo até a iraquiana Diyala.

Apesar do assédio aéreo da ofensiva lançada pela aliança internacional liderada pelos Estados Unidos, que apoia as várias forças que o combatem no terreno, o EI se manteve firme e conseguiu financiamento graças à venda de petróleo, aos sequestros, à extorsão e ao roubo de antiguidades.

As origens do grupo, vinculadas à Al Qaeda, remetem à época da ocupação americana no Iraque (2003-2011), e a partir de então saltou para a Síria, onde adquiriu poder no calor da guerra e ganhou independência da organização dirigida por Ayman al-Zawahiri.

Segundo analistas consultados pela Agência Efe, o surgimento do EI não pode ser estudado de forma isolada e se baseia nas profundas mudanças políticas que sofridas pela região do Oriente Médio.

O professor de Ciências Políticas da Universidade Americana de Beirute Hilal Jashan acredita que o grupo extremista “não emergiu na escuridão, mas em plena luz do dia, à vista de todos e com apoios regionais”.

Um exemplo do fato é que o exército iraquiano quase não resistiu quando os radicais tomaram Mossul no ano passado, disse o analista, que destacou que há uma luta de poder entre Irã e Arábia Saudita, com seus respectivos aliados, na região.

O analista político iraquiano Raad al Ramadan apoiou essa hipótese porque o objetivo da criação do califado é “dividir os países árabes e gerar violência sectária”.

O analista afirmou que o EI alcançou esse objetivo no Iraque, já que a população se divide entre os partidários do califado, em reação às políticas do ex-primeiro-ministro, o xiita Nouri al-Maliki; seus opositores, a maioria xiitas, que veem o EI como uma ameaça; e os defensores de um Estado laico, nem xiita nem sunita.

Apesar da vocação internacional do EI, que realizou atentados em vários países e atraiu milhares de combatentes de todo o mundo, seu raio de ação continua circunscrito no Iraque e na Síria, onde tem vários fronts abertos.

No solo sírio, o EI perdeu terreno recentemente no norte para as forças curdas, embora conserve sua capacidade de lançar ataques como demonstram as ofensivas em Kobani e Al Hasaka, e seu avanço frente ao regime no centro do país.

Enquanto isso, no Iraque, mantém as forças iraquianas em xeque na província ocidental de Al Anbar, apesar do grande golpe dado em março ao tomar a cidade de Tikrit, ao norte de Bagdá.

Para a diretora do centro de estudos Carnegie do Oriente Médio de Beirute, Lina Jatib, o EI atualmente “enfrenta dificuldades nas áreas de maioria curda, embora se beneficie da fraqueza do regime sírio em outras”.

Tanto na Síria como no Iraque, os curdos ganharam território dos jihadistas “graças ao apoio recebido de agentes regionais, dinheiro e recursos, porque se apresentam como um parceiro para o Ocidente”, disse Jatib.

De acordo com Al Ramadan, esse progresso curdo está causando uma mudança demográfica no Iraque porque os curdos conquistaram várias localidades em sua luta contra o EI, que estavam sob controle do governo de Bagdá antes da declaração do califado.

Diante deste panorama, é complicado imaginar que a situação volte a seu estado anterior à declaração do califado, no caso de uma hipotética derrota do EI, que os analistas veem em um horizonte muito distante.

Para Jashan, os bombardeios da coalizão internacional, liderada pelos EUA, afetaram os jihadistas, no entanto “não foram suficientes”.

“Washington não tem pressa para derrotar o EI”, acrescentou, antes de apontar: “Estamos no meio de mudanças históricas no Oriente Médio e é preciso movimentar bem as peças e no momento adequado”.

Sem dúvida, ressaltou que “no dia em que o EI for vencido, isso será acompanhado de acontecimentos muito importantes que virão simultaneamente”.

Nesse sentido, argumentou que o acordo de Sykes-Picot (1916), com o qual as potências dividiram as áreas de influência no Oriente Médio após a queda do Império Otomano, expirou e que haverá uma nova ordem regional, “mas após muitas operações militares e derramamento de sangue”.

“Acho que os países atuais continuarão existindo, mas mais fragmentados, ou seja, caminhamos rumo ao federalismo, algo que também interessa a Israel, que seus vizinhos estejam divididos”, refletiu. EFE

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