Campanha anticorrupção diminui interesse em cargos públicos na China

  • Por Agencia EFE
  • 02/12/2014 06h29
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Antonio Broto.

Pequim, 2 dez (EFE).- Centenas de milhares de candidatos participaram no último domingo das provas anuais do concurso público da China, que desta vez teve menos inscritos que nos anos anteriores devido à alta concorrência e à campanha anticorrupção no país.

Ao todo, 1,4 milhão de candidatos se inscreveram para as vagas, o número mais baixo dos últimos cinco anos. Neste ano há cerca de 22 mil cargos disponíveis.

Ainda não foi contabilizado o número exato de inscritos que participaram dos testes. As provas são famosas pela extrema dureza e pelos anos de preparação exigidos.

Em 2013, dos 1,5 milhão inscritos, apenas 990 mil compareceram ao teste, uma queda de 130 mil pessoas em comparação a 2012. Desde então, os especialistas já observavam falta de interesse dos cidadãos chineses em integrar a categoria, que tem mais de sete milhões de trabalhadores.

A imprensa oficial chinesa atribui essa tendência à campanha anticorrupção e de austeridade nos gastos públicos iniciada pelo presidente do país, Xi Jinping, quando chegou ao poder em 2012. Embora as medidas afetem principalmente os cargos mais altos, parecem ter reduzido o atrativo de alguns postos que já foram considerados privilegiados.

Prefeituras, governos provinciais e ministérios viram o presidente da China cortar banquetes desnecessários, presentes, voos em primeira classe e outras regalias que os altos funcionários desfrutavam há décadas, mas que a população chinesa começava a ver como um sinal de corrupção e injustiça social.

Outro motivo para a redução do número de candidatos pode ser o aumento dos pré-requisitos para se chegar a determinados postos públicos. Muitas das vagas do concurso acima do nível provincial exigem dois anos de experiência em instâncias locais.

Também foi possível perceber ao longo dos últimos anos uma sobrecarga de tarefas para os funcionários e altos cargos em nível local. O número de casos de trabalhadores de pequenas administrações que morreram por esgotamento ou em situações de forte estresse aumentou de forma alarmante.

“Muita gente acha que um cargo no governo dará benefícios materiais, mas para os que trabalham na política de base não é bem assim. Realmente levam uma vida muito dura”, disse o professor Sun Xiaoli, da Academia Chinesa de Governança, ao jornal “China Daily”.

O auge das grandes empresas privadas na China, que muitas vezes oferecem melhores condições trabalhistas, bons salários e trabalhos mais estimulantes, faz com que o sonho de muitos chineses já não seja mais trabalhar em um escritório do Estado, mas em empresas como Huawei, Wanda e Alibaba, exemplos de multinacionais chinesas em ascensão.

Desde 2003 foi abolido o caráter vitalício do emprego público, ordem dada pelo Ministério de Pessoal para melhorar a eficácia dos trabalhadores.

O sistema de oposições chinês se baseia nos pensamentos de Confúcio, o filósofo mais importante dessa civilização e um revolucionário em sua época (séculos V a.C. e IV a.C.), que recomendou uma sociedade “meritocrática” em que governariam os que demonstrassem ser mais hábeis, e não os herdeiros de privilégios.

Os candidatos aos empregos públicos na época imperial passavam até 72 horas seguidas realizando os intermináveis testes, rigorosamente fiscalizados e confinados durante semanas em celas para evitar qualquer contato e ajuda exterior.

Em algumas épocas, as provas eram tão difíceis que apenas 2% dos candidatos eram aprovados por ano, por isso alguns tentavam passar durante décadas, inclusive idosos.

O sistema, que resistiu ao maoísmo e se manteve até a atualidade, era positivo na medida em que permitia a uma grande parte da sociedade chinesa fazer parte da “nobreza” dos burocratas.

No entanto, os anos que os estudantes passavam confinados impediam que mais tarde, caso passassem nas provas, fossem governantes próximos ao povo. EFE

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