Campanha incentiva adoção de postes para iluminar favelas do Quênia

  • Por Agencia EFE
  • 07/03/2015 10h50
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Jèssica Martorell.

Nairóbi, 7 mar (EFE).- Quando anoitece, a vida nas favelas de Nairóbi, capital do Quênia, acaba e a escuridão se apossa das ruas mais povoadas da cidade, onde a eletricidade ainda hoje é artigo de luxo.

Às escuras, ladrões e estupradores têm muito mais facilidade para atacar moradores da região. Algo tão simples como postes de luz poderia mudar a vida das milhões de pessoas que vivem nos subúrbios, mas as limitações financeiras de um país como o Quênia mergulha na escuridão a maioria de seus habitantes.

Com o lema “Me adote”, cartazes são colocados nos poucos postes que há na cidade, que propõem financiamento em troca de estampar campanhas publicitárias de grandes empresas.

A queniana Esther Passaris é a responsável pelo programa “Adote um poste”, que há dez anos encoraja empresários do país a investirem na ação e assim conseguir uma maior segurança nas ruas.

A empresária social busca com as autoridades locais a instalação e manutenção de postes na cidade, que são financiados graças ao lucro de seus painéis publicitários. Apesar do sucesso da iniciativa, que teve o apoio de grandes bancos e companhias aéreas, ainda há muito a fazer: grande parte de Nairóbi ainda fica no breu depois das 18h30.

Esther centra seus esforços nos subúrbios, onde residem 3,5 milhões de pessoas (60% da população da capital queniana), especialmente em Kibera, maior favela da África, localizada a cinco quilômetros do centro da capital.

Aos 48 anos, esta empreendedora queniana supervisiona as tarefas de instalação de sete novos postes de 30 metros, cada um deles destinado a iluminar uma área de pelo menos 90 mil metros quadrados com 7.500 casas.

“Cada uma dessas estruturas custa 3,5 milhões de xelins (R$ 109.894), porque todo o material é importado da África do Sul”, explicou Esther à Agência Efe.

Estes sete postes se somarão a outros 14 que sua companhia já instalou em diferentes bairros, e que permitiram iluminar a vida de sua gente nos últimos anos.

Cientes da mudança que as instalações provocarão, muitos moradores se aproximam com curiosidade e entusiasmo para observar como os trabalhadores colocam no meio do bairro um dos enormes postes de luz. Nos bairros onde já eles foram instalados, o dia a dia da comunidade mudou significativamente.

“Agora, embora seja noite, a vida segue em Kibera. As crianças podem, inclusive, continuar na rua. É maravilhoso”, disse Esther orgulhosa.

A luz não fica apenas nas ruas. Esther conta que, como na maioria dos barracos não há eletricidade, alguns moradores furaram o teto feito de telha para permitir a entrada de alguns feixes de luz dentro de casa.

Era o ano de 2002 quando a empresária decidiu embarcar na ideia de “Adote um poste” depois de saber que um projeto parecido estava em andamento em Soweto, na África do Sul. Certa de sua motivação, viajou até lá para conhecer e aprender como funcionava o processo.

Seguindo os passos dos sul-africanos, começou a destinar a receita da publicidade ao desenvolvimento da cidade onde nasceu e que conta com altos índices de criminalidade, em grande parte, por conta da falta de iluminação pública. Especialmente nos bairros pobres, o índice de estupros é altíssimo.

Muitas mulheres são atacadas, por exemplo, quando saem de casa durante a noite para ir ao banheiro, já que nos barracos não há vaso sanitário. A falta de iluminação transforma as labirínticas ruas em um lugar ideal para criminosos atuarem com total impunidade.

“Com luz, as pessoas podem se sentir seguras na rua. Sem ela é impossível”, declarou à Efe o arquiteto Charles Newman, diretor da ONG Kounkuey Design Initiative em Kibera, bairro que também não possui água potável e saneamento básico.

“A intenção é de que, com a iluminação, a criminalidade diminua”, disse Newman, que adianta que o governo queniano já está se conscientizando da importância da iluminação e começou a elaborar projetos para alcançar este objetivo. EFE

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