Campo de refugiados em parque de Atenas revela um mundo paralelo

  • Por Agencia EFE
  • 06/08/2015 15h18

Gérard de Josep.

Atenas, 6 ago (EFE).- Um afegão mexe em algumas peças de roupa que estão no chão de um parque de Atenas. Poderia ser uma espécie de feirinha ao ar livre, mas ali não há nada à venda. O que o home vê, na verdade, são doações para os refugiados que vivem no local há mais de duas semanas em um acampamento improvisado.

Trata-se do Pedion tou Areos, um parque do centro de Atenas, situado a poucos metros de um importante terminal de ônibus de onde gregos e estrangeiros partem rumo às paradisíacas praias do Cabo Sunion e multidões de refugiados tentam ir para o norte. Ao todo, 100 mil estrangeiros chegaram à Grécia no primeiro semestre.

Pedion Tou Areos poderia ser o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, ou o Hyde Park, em Londres, por sua importância, mas já na entrada principal, aos pés de uma grandiloquente estátua, é possível perceber a existência de um mundo paralelo: pessoas sem-teto e drogadas convivem em um mesmo espaço que agora também abriga 260 refugiados em 80 barracas de campanha. Muitos deles querem chegar ao norte da Europa e alguns nem mesmo sabem como fazer isso.

A viagem é feita aos poucos e chegar à Grécia já é uma grande conquista, já que saíram de um país em guerra, arriscaram a vida ao pegar um bote na Turquia, e agora sonham em terminar em algum lugar do velho continente com a promessa de um futuro melhor.

Muitas ONGs atuam no lugar. Ao todo, 98% dos refugiados que estão no parque são de origem afegã e aguarda o dinheiro que seus parentes mandarão para eles seguirem o caminho.

Após a explosão do conflito na Síria, em março de 2011, cerca de quatro milhões de pessoas se transformaram em refugiados nos países vizinhos, mas os sírios que escaparam saíram com dinheiro suficiente para não precisar fazer essa “escala”.

Um jovem de 25 anos relatou à Agência Efe que deixou toda sua família no Afeganistão e sonha em chegar à Alemanha. Ele fugiu da guerra e seu maior desejo é poder ajudar a família.

Comovidos pela situação, os moradores do bairro se mobilizaram e passaram a doar roupas, comida e remédios aos refugiados, mas isso apenas ameniza uma situação bastante ruim. O calor é implacável, os mosquitos não param de voar e as condições de higiene são péssimas.

Há oito banheiros químicos para 300 pessoas e apenas dois chuveiros. Como a temperatura chega aos 40 graus, a sombra se torna em um dos bens mais preciosos e vira ponto de encontro.

Com tanta vulnerabilidade, o risco é iminente e, segundo a imprensa local, dezenas de crianças já tiveram que ser internadas em hospitais por doenças da pele ou desidratação. A assistência médica é uma das principais preocupações das ONGs que trabalham no lugar e aproveitam suas próprias instalações para fazer revisões médicas e fornecer aos refugiados a medicação necessária.

Entre os voluntários há muitos estrangeiros. São pessoas que viveram na pele a experiência do exílio e se sentem na responsabilidade de dar uma resposta a esta emergência social.

Esse é o caso de um albanês que não quer dar seu nome nem ser fotografado, mas que contou à Agência Efe que passa o dia no acampamento.

“Eu passei por isto. Sei o que é e, por isso, venho ajudar”, comentou.

O ministro de Estado, Alekos Flamburaris, informou no último fim de semana que, nos próximos dias, o governo deve transferir o acampamento de Pedion tou Areos a Eleonas, no oeste da cidade, onde haverá estruturas de amparo.

O prefeito de Atenas, Yorgos Kaminis, disse a Flamburaris que a cidade está disposta a dar apoio aos refugiados, como já fez em outras ocasiões, e a ajudar a mudar as “condições desumanas” nas quais estão vivendo. EFE

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