Canadá e Québec encaram referendo na Escócia como um assunto de família
Julio César Rivas.
Toronto (Canadá), 17 set (EFE).- O Canadá, especialmente em Québec, que em duas ocasiões realizou referendos independentistas, aguarda com especial interesse o resultado da votação de quinta-feira que decidirá o futuro da Escócia no Reino Unido.
Mais de 10% dos 35 milhões de canadenses se proclama de origem escocesa e dois antigos primeiros-ministros do país, inclusive o primeiro chefe de governo do Canadá, John Macdonald, nasceram no território britânico.
Neste contexto não é de estranhar que o referendo independentista escocês esteja sendo seguido com especial interesse no Canadá, com ambos lados da discussão claramente definidos.
Por um lado, os soberanistas quebequenses deixaram claro seu apoio pela independência da Escócia e que a vitória do “sim” no referendo será uma inspiração para eles.
Por outro, os federalistas, liderados pelo governo canadense, expressaram sua rotunda rejeição à ruptura com o Reino Unido.
“Nós pensamos, de uma perspectiva canadense, que um Reino Unido forte e unido é uma força incomodamente positiva no mundo”, declarou o primeiro-ministro canadense, o conservador Stephen Harper, quando visitou Londres no início de setembro.
“Não há nada na divisão destes países que sirva ao interesse global ou aos interesses das pessoas nesses países”, acrescentou Harper em referência a Reino Unido e Canadá.
O ministro das Relações Exteriores do Canadá, John Baird, se expressou de forma similar.
“Acreditamos que é melhor que o Reino Unido siga unido já que edificou uma das melhores sociedades na história do mundo. É um grande amigo e parceiro. Achamos que o melhor é que sigam unidos”, declarou Baird a uma televisão local.
A visão é muito distinta entre os soberanistas quebequenses. Uma delegação da Société Sain-Jean-Baptiste de Montreal, a principal instituição independentista do Québec, liderada por seu presidente, Maxime Laporte, estará na Escócia no dia da votação para oferecer seu “apoio” aos independentistas escoceses.
Além disso, três parlamentares provinciais do defensor da soberania Partido Quebequense (PQ) também viajarão para Escócia para expressar seu apoio pelos independentistas e presenciar “um momento histórico”.
Outro independentista quebequense, o líder do pequeno Option Nationale (ON), Sol Zanetti, não duvidou em recorrer ao YouTube para aconselhar, com ironia, que os escoceses se informem sobre a experiência do Québec e seus dois referendos que os soberanistas perderam.
Zanetti explicou que, como no caso da Escócia, o Québec recebeu várias promessas por parte de Ottawa à medida que o dia da votação se aproximava e as enquetes apontavam uma possível vitória independentista.
“Nos prometeram tanto, especialmente pouco antes da votação. Dinheiro, mais poderes e, oh, quantas vezes nos disseram que nos amavam. Houve até um desfile”, ironizou Zanetti em referência à manifestação em massa que os federalistas realizaram pouco antes da votação.
No entanto, segundo Zanetti, tudo mudou após a ajustada vitória dos federalistas.
“Perdemos nosso poder de veto, os fundos para a saúde não mantiveram o ritmo das demandas, os fundos para educação estão bloqueados em conflitos administrativos, são investidas elevadas somas no exército contra nossos interesses estratégicos, nosso dinheiro é gasto fora de nossas fronteiras”, comentou.
Mas Zanetti não pôde evitar de lembrar que o Québec perdeu sua independência e passou a ser controlado pelo Reino Unido em uma batalha em 1759 na qual os franceses foram derrotados justamente por um regimento escocês.
“Hoje os quebequenses não têm problemas com os escoceses. Mas, esperamos que no futuro, escolham sua próprias batalhas e se ocupem de seus próprios assuntos”, concluiu. EFE
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