Cantareira tem maior alta desde início da crise hídrica

  • Por Agência Estado
  • 16/01/2016 09h30
05/08/2014- São Paulo- SP, Brasil- O prazo de atividades do Grupo Técnico de Assessoramento para Gestão do Sistema Cantareira foi prorrogado para 31 de outubro de 2015. A prorrogação da vigência do GTAG-Cantareira considera a atípica situação de escassez de chuvas no Sudeste entre janeiro e julho. Este contexto climático tem resultado em vazões inferiores aos menores valores observados no histórico de monitoramento da bacia do rio Piracicaba, onde estão os principais reservatórios de regularização de vazões do Sistema Cantareira, responsável por parte do abastecimento de água das regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas. Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas (05/08/2014) Sistema Cantareira

Após dois dias seguidos de chuvas intensas, o Sistema Cantareira registrou ontem a maior alta desde o início da crise hídrica. O nível do manancial subiu 1,3 ponto porcentual – o recorde anterior era 0,7 ponto, em 7 de dezembro de 2015 – e atingiu 35,2% da capacidade, ainda considerando as duas cotas do volume morto das represas.

Em 24 horas, o Cantareira recebeu 14 bilhões de litros de água da chuva e de seus afluentes, quase metade do que entrou durante todo o mês de janeiro de 2015, o mais seco da história do manancial. O volume é suficiente para abastecer cerca de 5 milhões de pessoas por dez dias ou para encher 5,6 mil piscinas olímpicas.

Segundo Pedro Côrtes, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em recursos hídricos, as chuvas constantes que têm caído no manancial desde outubro do ano passado ajudaram a encharcar o solo que estava seco e anular o chamado “efeito esponja”, aumentando a vazão afluente. Só nos últimos dois dias o sistema recebeu 62,2 milímetros de chuva, 43% do que já choveu até agora (143,6 mm) e 24% do esperado para todo o mês (264 mm)

“Realmente, o volume afluente tem sido muito grande pela sequência de chuvas no manancial. Esses dias nublados e chuvosos têm sido propícios para recarregar o lençol freático e aumentar o estoque de água nos reservatórios. Certamente isso é consequência de um El Niño (fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico) de forte intensidade, mas que tende a acabar por volta de maio”, explica Côrtes.

Exploração

Diante da recuperação gradativa do Cantareira, que registra altas consecutivas há 44 dias, a Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), do governo paulista, autorizaram ontem a Sabesp a retirar 30% mais água do sistema neste mês. Agora, a companhia poderá captar até 19,5 mil litros por segundo, volume semelhante ao que captava em outubro de 2014. O limite anterior era de 15 mil l/s.

A Sabesp, contudo, queria alterar o ponto de controle do limite de captação, na saída da Represa Paiva Castro, em Mairiporã, na Grande São Paulo, para a Represa Atibainha, em Nazaré Paulista. Ao todo, o Cantareira é formado por quatro reservatórios. A ANA rejeitou a proposta, alegando que com a mudança a companhia poderia retirar, além dos 19,5 mil l/s da Atibainha, cerca de 4,5 mil l/s a mais da Paiva Castro, o que daria uma captação total do Cantareira de 24 mil l/s, índice praticado em abril de 2014, quando o manancial tinha cerca de 10% da capacidade normal Ontem, esse índice era de 5,9%.

Outra proposta da Sabesp rejeitada foi a meta de reservação de água no Cantareira no fim de 2016. No pedido, a companhia apresenta um modelo de operação tendo como meta chegar a dezembro deste ano com 5% do volume normal, sem incluir o volume morto. Para a ANA, o índice deverá ser de 20%, para dar maior segurança hídrica ao sistema.

A Sabesp afirma que o objetivo da proposta era “ampliar o conforto para a população”, reduzindo o período de racionamento de água por meio da redução da pressão na rede. Desde o dia 18 de dezembro, após um aumento na exploração do Cantareira de 13,5 mil l/s para 15 mil l/s, a empresa já reduziu praticamente pela metade o tempo de corte no fornecimento de água na região atendida pelo manancial. Agora, a companhia afirma que vai fazer estudos técnicos para avaliar o efeito da decisão da ANA e do DAEE na “retomada da normalidade do abastecimento de água”.

Para Pedro Côrtes, o aumento de 30% na exploração do sistema “é prematuro”. “Ainda estamos longe da normalidade em relação do nível do sistema. O ideal é que estivéssemos com 40% nesta época do ano e não 5%. Há perspectiva de que o volume de chuvas diminua, e isso vai retardar a recuperação do sistema”, afirma.

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