Carter toma rédeas de um Pentágono ocupado em “realinhar” legado de Obama
Jairo Mejía.
Washington, 12 fev (EFE).- Ashton Carter será provavelmente o quarto e último secretário de Defesa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o responsável por “realinhar” seu legado, até aqui marcado por crises no Oriente Médio, na Europa e por promessas ainda não cumpridas, como a de fechar a prisão de Guantánamo.
Confirmado nesta quinta-feira pelo Senado, Carter não tem o perfil político de seus antecessores Chuck Hagel, Leon Panetta e Robert Gates, mas a seu favor conta com uma longa carreira de tecnocrata no Pentágono que o tornou o candidato perfeito para encarar tanto os desafios em segurança como a complexa tarefa de evitar que o país que mais emprega não se torne um desperdiçador de recursos.
Este doutor em física teórica por Oxford, que passou por Harvard, Yale, Stanford e MIT, deixou em outubro de 2013 seu posto de número dois do Pentágono porque suas ambições apontavam muito mais alto, e sua vontade de mudança não foi satisfeita por Hagel, que caiu por sua incapacidade de manter um tratamento fluído com os assessores da Casa Branca.
Carter, um acadêmico e um gerente de 60 anos experiente na teia organizacional do Departamento de Defesa, escreveu há um ano na revista “Foreign Affairs”: “O Pentágono está muito mal equipado para fazer frente às necessidades urgentes que aparecem em tempos de guerra”.
Essas crises repentinas, como o avanço inesperado do Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria e o terreno ganho pelos separatistas pró-Rússia na Ucrânia, serão os desafios mais agudos de Carter, que a menos de dois anos de Obama deixar a Casa Branca será fundamental para o desfecho do segundo mandato do presidente.
Esse papel indispensável do secretário de Defesa não evitou que durante a gestão de Obama os chefes do Pentágono tenham acusado o círculo próximo ao presidente de exercer um controle excessivo, de intromissão e de querer impor seus prazos baseados em uma agenda política.
O tempo no Pentágono e o estatuto militar não são os mesmos dos estrategistas políticos da Casa Branca, e isso criou tensões. No último episódio, foram as pressões para que a Defesa acelerasse as transferências de presos de Guantánamo, presídio que Obama prometeu fechar ao chegar ao poder e que ainda continua ativo.
Os métodos também não são iguais. Isso pode acarretar problemas para Carter durante a missão contra o Estado Islâmico no Iraque e a pressão dos militares para deixar aberta a possibilidade de pôr tropas de combate no terreno em zonas pontuais, como a inevitável tomada de Mossul.
A Casa Branca não quer falar em tropas em outro papel que não seja o de assessoria no Iraque por causa do custo político, e os comandantes sabem que essa possibilidade é pouco realista.
“Eu não descartaria tropas americanas no campo de batalha, pelo menos em momentos pontuais, embora claramente não devêssemos voltar a ter uma presença de longo prazo”, explicou hoje James Jeffrey, analista do Washington Institute.
Este morde e assopra será a chave da relação pessoal entre Carter e Susan Rice, a assessora de Segurança Nacional de Obama, uma das pessoas mais influentes do governo americano e conhecida por seu temperamento forte.
Panetta explicou recentemente em entrevista quais são as dinâmicas de poder na era Obama: “É preciso ser muito honesto sobre qual é o melhor caminho e brigar por isso”.
Outra das iminentes “brigas” que Carter deverá entrar estará focada no debate sobre o fornecimento à Ucrânia de armamento defensivo para combater os separatistas apoiados pela Rússia, o que poderia desencadear uma escalada do conflito, apesar da assinatura de um novo acordo de paz em Minsk.
Durante a audiência de confirmação dessa estratégia no Senado, Carter se mostrou a favor de ajudar Kiev com armamento e prometeu dar seu conselho franco a Obama apesar de suas ideias serem opostas às de Rice.
A longo prazo, o novo secretário de Defesa será um parceiro indispensável para que Obama possa fechar sua presidência cumprindo suas promessas de uma defesa mais pragmática, menos onerosa e subordinada à diplomacia, para acabar assim com “o estado de guerra perpétua” ao qual o Pentágono está acostumado. EFE
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