Cartes completa um ano no comando do Paraguai entre protestos dos mais pobres

  • Por Agencia EFE
  • 15/08/2014 18h41

Assunção, 15 ago (EFE).- O multimilionário Horacio Cartes cumpriu nesta sexta-feira um ano na Presidência do Paraguai, um dos países mais desiguais da América do Sul, com conquistas em transparência pública e contenção fiscal, mas sem tratar da reforma agrária exigida na rua pelos camponeses, a população mais pobre do país.

Centenas de camponeses e militantes de grupos de esquerda concluíram hoje, em frente ao Congresso paraguaio, três dias de mobilizações em rejeição ao seu governo.

Os participantes, em sua maioria membros da Federação Nacional Camponesa (FNC), acusam Cartes, que chegou ao poder pelo conservador Partido Colorado, de ser “o presidente dos ricos” e de beneficiar os grandes fazendeiros.

Enquanto a manifestação acontecia, o presidente comparecia ao tradicional Te Deum realizado na Catedral Metropolitana por ocasião do 477º aniversário da fundação da capital Assunção, horas depois de se dirigir ao país pela televisão para prestar contas de seu trabalho no governo.

Cartes apareceu ontem à noite de forma surpreendente nos televisores com um discurso gravado para repassar seu primeiro ano de governo, que segundo ele esteve marcado pela luta contra a corrupção e a pobreza, a geração de emprego e o desenvolvimento econômico.

“Combatemos diretamente o clientelismo e o prebendalismo, para que os melhores homens e mulheres da pátria guiem nosso destino, trazendo dignidade para a função pública”, disse o líder, dono de uma série de empresas, entre elas bancos, fabricantes de bebidas e tabaco e produção de soja e carne.

Cartes garantiu que seu governo criou em um ano mais de 10 mil empregos em todo o país – que tem uma população aproximada de 6,7 milhões de habitantes – e facilitou a instalação de 300 novas empresas. Também destacou que conseguiu dar mais transparência para algumas instituições públicas, um mérito reconhecido por analistas e pesquisas.

Defendeu também a lei das parecerias público-privadas, um projeto promovido por ele e aprovado no Congresso, como o meio para aumentar o desenvolvimento do país.

O governo pretende usar a lei para atrair capital privado para melhorar as infraestruturas deficientes, mas é fortemente contestada pela esquerda do país, que a vê como uma espécie de privatização, como clamaram hoje milhares de pessoas durante o terceiro dia de protestos na capital e em nível nacional.

A manifestação de trabalhadores e camponeses teve o apoio de simpatizantes e alguns dirigentes da Frente Guasú, o partido do ex-presidente e atual senador Fernando Lugo, e de outros grupos de esquerda.

“É o presidente dos ricos, dos grandes exportadores, dos grandes produtores, não é o presidente dos pobres”, disse Elmo Rodríguez, dirigente do Partido Paraguai Pyahura (Para um Novo Paraguai), aos reunidos hoje em frente ao Congresso.

“Durante seu governo não foram dados passos para a distribuição da terra, só houve a retirada forçada de camponeses que ocupavam terras. Também não há ajudas para os pequenos produtores e nenhuma intenção de se propor uma lei de reforma agrária”, declarou à Agência Efe Marcial Gómez, secretário-geral adjunto da FNC.

No entanto, Cartes deu destaque em seu discurso televisivo para o programa “Semeando Oportunidades”, iniciado por seu governo para o desenvolvimento do campesinato mais pobre, mas a Federação Nacional Camponesa o classificou hoje de “assistencialismo e propaganda”.

A terra é a maior fonte de riqueza para poucos no Paraguai, um enorme produtor de alimentos que este ano terá uma colheita recorde de soja, mas é também no campo que se concentra sua maior pobreza, que aflige 44,8% dos habitantes das zonas rurais, segundo os últimos dados da ONU.

Um recente estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) indica que 22,3% da população do país ingere menos calorias do que o necessário para se levar uma vida saudável. Trata-se do terceiro maior percentual no continente, depois de Haiti e Guatemala.

O Paraguai ostenta uma das maiores concentrações de terras no mundo, já que 2,6% dos proprietários controlam 85,5% da superfície agrária, segundo a FAO.

As políticas do governo e o conflito agrário foram também os principais motivos da primeira greve geral em 20 anos que, no último dia 24 de março, foi convocada pelas centrais sindicais, junto a outras reivindicações como melhorias salariais e condições dignas de vida.

Após o ato de protesto em frente ao Congresso, o senador da Frente Guasú, Hugo Richer, e o dirigente da FNC disseram à Efe que suas organizações não descartam uma nova greve geral contra Cartes. EFE

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