Caso Nisman terá papel-chave nas eleições presidenciais de 2015 na Argentina
Mar Marín.
Buenos Aires, 23 jan (EFE).- A evolução da investigação da morte do promotor federal Alberto Nisman terá um papel-chave nas eleições que serão realizadas na Argentina neste ano, afetando diretamente o governo, já muito questionado pela gestão do maior escândalo do mandato de Cristina Kirchner.
No meio de uma tempestade política sem precedentes em uma década, Cristina se mantém na residência oficial de Oliveiras, nos arredores de Buenos Aires, e não aparece em público desde o dia 14 de janeiro, quando Nisman a denunciou por tentar encobrir os autores do atentado contra uma associação judaica em 1994.
O promotor foi encontrado morto em seu apartamento com um tiro na cabeça na madrugada da última segunda-feira, horas antes de comparecer a uma audiência no Congresso para detalhar as acusações contra Cristina e vários funcionários do governo por encobrirem terroristas iranianos.
A presidente, que inicialmente cogitou a hipótese de suicídio, mudou radicalmente de opinião na quinta-feira. Atribuiu a morte de Nisman a uma conspiração para desestabilizar o governo, uma ação que teria sido conduzida por ex-agentes da inteligência.
“Não tenho provas, mas também não tenho dúvidas”, afirmou Cristina pelas redes sociais, em vez de optar pela emissora nacional de televisão, veículo normalmente usado pela presidente para fazer até mesmo o mais banal dos anúncios.
A nova denúncia deixou o país ainda mais atônito por causa do escândalo.
A Justiça pede provas à presidente. Já a oposição exige uma postura à altura das circunstâncias para uma chefe de Estado. Na opinião do deputado opositor Francisco de Narváez, o atual comportamento de Cristina se parece “com o de uma adolescente”.
Enquanto isso, a imagem do governo e a confiança da população nas instituições argentinas desabam nas pesquisas.
Segundo levantamento da empresa de consultoria Management & Fit, 84% dos argentinos acreditam que a morte do promotor afetará negativamente a imagem da presidente. Outros 70% avaliam que o crime ficará impune. Além disso, 61% acham que as acusações feitas por Nisman são verdadeiras.
“(Cristina) se encontra em uma situação muito complicada e de alta fragilidade, que afeta profundamente a confiança no governo”, indica a codiretora do Centro de Opinião Pública da Universidade de Belgrano, Virgínia García Beaudoux, em entrevista à Agência Efe.
“É uma crise de comunicação que até agora foi mal conduzida. Ela fala tangencialmente do tema, mas não atua como as pessoas esperam de um presidente nessa situação”, acrescentou a especialista.
A reação, no entanto, não surpreende Virgínia. Segundo ela, a Cristina costuma usar e abusar da presença na imprensa, mas sempre some nas horas de crise, “quando é preciso que o presidente fale”.
“Nesses momentos, ela se retira da cena pública e sua estratégia de comunicação é o silêncio. É uma má estratégia e uma má escolha. Enquanto isso os cidadãos esperam, porque foi cruzado um limite do que era tolerável, o governo perde toda sua credibilidade”, critica a especialista.
Ela avalia que se o escândalo tivesse ocorrido às vésperas das eleições presidenciais, marcadas para outubro, o efeito seria catastrófico para o governo. No entanto, ela minimiza o impacto da crise a longo prazo.
Para o diretor da consultora Nueva Mayoría, Rosendo Fraga, a tentativa inicial de impor a hipótese do suicídio antes da investigação terminar acabou gerando um destaque político importante para Cristina e o governo argentino.
“Eleitoralmente, o governo tem uma escolha difícil. São nove meses até as eleições, é muito tempo. Mas está muito claro que essa situação irá beneficiar qualquer candidato da oposição”, explicou.
A última palavra será dada pelos eleitores em outubro. Mas, talvez, eles ainda não saibam quem “suicidou” Alberto Nisman. EFE
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