Ceder a agronegócio pode ser “tiro no pé” para Marina, diz cientista político
Cleyton Vilarino.
São Paulo, 21 ago (EFE).- Com um histórico de posições contrárias aos interesses do agronegócio, Marina Silva pode ter dificuldades com o setor ainda que tenha o apoio de pessoas como o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), candidato a vice-presidente em sua chapa e tido como “elo” entre a bancada ruralista e a candidata.
De acordo com a análise do cientista político Glauco Peres da Silva, professor da Universidade de São Paulo, Marina terá que achar uma forma de conciliar seus posicionamentos históricos, que a levaram a se tornar uma terceira via em 2010, com os interesses do PSB e do setor agropecuário.
“De um lado ela vai ser pressionada pelo PSB e pelo setor do agronegócio para que não adote posições tão extremistas, mas por outro lado ela representa para boa parte do eleitorado alguém capaz de fazer valer suas visões de mundo e posições ideológicas” ressaltou Silva.
De acordo com ele, “ceder para o setor do agronegócio em posições em que antes ela era claramente contrária, pode ser um tiro no pé”.
Em entrevista à Agência Efe, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Correia Carvalho, disse acreditar, por outro lado, que a mudança de candidatura devido à morte de Eduardo Campos não interfere nos compromissos firmados entre o líder do PSB e o setor agropecuário.
“Entendemos que formalmente esses compromissos do candidato e da sua vice estão mantidos com ela (Marina Silva) como cabeça de chapa. Portanto, os aspectos macros principais estão mantidos”, ressaltou Carvalho ao destacar que vários eventos do setor foram feitos com a presença de Eduardo Campos para firmar uma agenda para o agronegócio.
Em coletiva logo após sua indicação para substituir Eduardo Campos, Marina ressaltou que quando Eduardo foi à CNA (Confederação Nacional do Agronegócio) participar de um debate, ele levou as propostas de ambos. “É com essas propostas que vamos dialogar com o agronegócio”, afirmou.
Na ocasião, a candidata defendeu o setor, alegando que discorda “de que nossos agricultores reivindicam produzir sem preocupações com a agenda ambiental e social” e que “estas pessoas que pensam assim não representam a maioria dos agricultores brasileiros”.
Segundo o presidente da Abag, “as questões ambientais passaram”, havendo hoje alguns outros temas “de peso muito mais importante” para o setor e enfrentados por Eduardo Campos durante debate realizado com a Abag, como a sustentabilidade do agronegócio.
“Nesta discussão você tem várias questões para as quais ela (Marina Silva) já tinha um posicionamento que nós conhecíamos. Para as outras questões que Eduardo (Campos) colocou um posicionamento nós entendemos que essa também deverá ser a posição dela”, ressaltou o presidente da Abag, destacando que há uma impressão de que “os compromissos estão mantidos”.
Porém, para o cientista político Glauco Peres da Silva, a tarefa não será tão simples, já que Marina Silva não poderá mostrar que cedeu facilmente sob pena de perder grande parte do seu eleitorado.
“Não vai ser muito simples. Ela vai ser obrigada a avaliar muito bem como essa ponte (como agronegócio) vai acontecer e como vai conseguir estabelecer essa relação. E isso não vai ser simples de fazer para alguém que sempre deixou muito claro qual era a sua posição”, disse o especialista, que acredita que a candidata sempre carregará um certo “ranço” por parte do agronegócio. EFE
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