Células alogênicas podem restabelecer funções do coração após infarto agudo
Madri, 30 jan (EFE).- O Hospital Geral Universitário Gregorio Marañón, de Madri, iniciou o ensaio clínico de um programa pioneiro de tratamento cardíaco, utilizando células cardíacas alogênicas – procedentes de múltiplos doadores – para reparar o tecido danificado após um infarto agudo do miocárdio.
Esse ensaio clínico foi apresentado nesta sexta-feira com o objetivo de tratar 55 pacientes para comprovar sua eficácia – até o momento sete pacientes foram submetidos ao tratamento.
A evolução, que é muito animadora, permitiu constatar que estas células podem ser administradas “de forma fácil e totalmente segura em pacientes em estado grave”, afirmou Francisco Fernández-Avilês, chefe do serviço de cardiologia do hospital.
De acordo com Fernández-Avilês, nesta primeira fase foi comprovado que a dose administrada “não apresenta efeitos tóxicos, danos ao tecido cardíaco, nem nenhuma reação imunológica”.
As células dos doadores são obtidas do tecido cardíaco, desprezado ao se submeterem a algum tipo de cirurgia, como a cirurgia da válvula cardíaca, por exemplo. Depois, as células se expandem em laboratório, até alcançar a quantidade necessária por paciente – 35 milhões.
Esse número pode parecer alto, mas se pensarmos que uma biópsia retira centenas de milhões de células, poderemos constatar que esta não é uma quantidade tão grande.
O perfil do paciente que necessita deste tratamento é o de alguém que sofreu um grande infarto, deixando o tecido cardíaco gravemente comprometido – o que torna a pessoa mais vulnerável a uma insuficiência cardíaca. Estes casos representam 20% do total de infartados.
O momento ideal para administrar as células é entre o quinto e o décimo dia após o episódio, quando a situação clínica do paciente estiver completamente estabilizada.
Segundo os especialistas, o processo é feito através da introdução das células por via intracoronariana, com um cateter muito pequeno, que não produz nenhum tipo de dano – é um procedimento similar ao utilizado para colocar um stent.
O chefe do serviço de cardiologia destacou que este procedimento “não é para tratar a insuficiência cardíaca, mas é para preveni-la e pretende atuar sobre o tamanho da cicatriz e a evolução da forma e a função do ventrículo esquerdo”.
Caso o estudo comprove que é possível reduzir o tamanho da cicatriz e que colabore para restabelecer todas as funções do ventrículo esquerdo, “haverá uma grande redução do risco de o paciente desenvolver insuficiência cardíaca nos próximos três ou cinco anos”. Mas isto só poderá ser analisar quando o ensaio clínico, com os 55 pacientes, for concluído, o que pode acontecer no final de 2016.
Inicialmente o tratamento não é eficaz em pacientes que já têm uma alteração crônica do tecido cardíaco, porque, segundo o especialista, “quanto mais tempo transcorrer desde o episódio agudo até a intervenção, menor a possibilidade de apenas a introdução de células apresentar resultado”.
O estudo foi aprovado pela Comissão Europeia através do projeto denominado Caremi, do qual participam mais de 20 entidades europeias. EFE
bec/lvp/id
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.