Centenas de cristãos iniciam a paixão na “hora santa” em Getsêmani

  • Por Agencia EFE
  • 17/04/2014 18h44
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Javier Martín

Jerusalém, 17 abr (EFE).- Centenas de cristãos de todo o mundo se reuniram nesta quinta-feira no Jardim do Getsêmani, ao pé do Monte das Oliveiras, para iniciar a lembrança da Paixão no local no qual, segundo Santa Helena, aconteceu a agonia de Jesus e a traição de Judas.

Em meio a um solene reconhecimento, a custódia franciscana da Terra Santa iniciou a chamada “hora santa” com uma longa oração liderada pelo atual responsável dos frades menores do Oriente Médio, Pierbattista Pizzaballa.

Depois, centenas de “escoteiros” palestinos empreenderam a procissão rumo ao Monte Sião e à Igreja de São Pedro em Gallicanto, através do vale do Cédron, na parte sudoeste da Cidade Antiga de Jerusalém.

A atual localização do “Jardim do Getsêmani” é obra de Santa Helena, mãe do imperador Constantino, durante sua peregrinação aos santos lugares do século IV e aparece em várias crônicas de peregrinos da Idade Média, como o diplomata florentino Giorgio Gucci.

Maravilhado pela santidade que em terras de mamelucos percebeu, o então jardim cativou seu relato: em Getsêmani se ajoelhou, vencido pela densa sombra das oliveiras que, segundo relatou ao guardião, que 1.300 anos antes tinham sido testemunhas do sofrimento e da angústia do Senhor.

Mais de sete séculos depois, Emile, um palestino de rosto enxuto e mãos calosas, cuida com carinho, a cada manhã, do jardim no qual, de acordo com a tradição, sobrevivem oito daquelas árvores que Gucci venerou e que estudos patrocinados pela custódia franciscana asseguram que eram brotos do tempo de Nazareno.

Seus troncos medem agora três metros de diâmetro e suas olivas, maduradas sob o seco calor do verão, produzem um azeite viscoso que os franciscanos -que cuidam do local desde 1681- repartem por todos os mosteiros que existem na Terra Santa.

Situado no vale ao leste do vale do Cédron, com o Monte das Oliveiras a sua costas e as muralhas da Cidade Antiga à frente, o Jardim do Getsêmani que hoje é visitados pelos êmulos de Gucci é uma cuidada superfície de 1.200 metros quadrados que fica junto à chamada Basílica da Agonia ou Igreja de Todas as Nações.

Pouco fica daquela serenidade que os evangelistas concediam ao local no qual Jesus costumava se retirar para orar, Um moinho-o nome vem de uma expressão em aramaico que significa prensa de azeite- com uma gruta localizada fora dos muros, na colina onde três estradas convergiam para Betânia.

Ao cair da noite, quando grupos de peregrinos deixar o local e a luz fraca do sol cai sobre as cúpulas douradas da Cúpula da Rocha e da Igreja de Santa Maria Madalena, o lugar é envolto em uma sorte mística similar ao que havia há dois milênios, quando toda a ladeira era um bosque de oliveiras.

É então quando a basílica adjacente, construída pelo arquiteto italiano Antoni Barluzzi entre 1919 e 1924 sobre as ruínas de uma basílica bizantina do século IV e uma capela cruzada abandonada no século XIII, tem todo seu significado.

Financiada por uma dúzia de países -daí seu nome Igreja de Todas as Nações- Barluzzi desenhou seus vitrais em forma de cruz para que a luz quase não passasse a escuridão interior, a tintura de opalescente violeta e recriou o ambiente sombrio, rasgado pela lua cheia, que a tradição relata.

O italiano se inspirou na versão de Lucas 22 (39-46), talvez o relato mais dramático e completo dos fatos que supostamente aconteceram naquela Quinta-feira Santa, quando Jesus, sabendo o seu destino, entregou sua vontade ao pai.

Segundo o discípulo de Paulo de Tarso, após jantar no vizinho cenáculo, Jesus e seus apóstolos cruzaram o vale do Cédron para chegar a um jardim do Monte das Oliveiras, onde “se afastou e começou a rezar” enquanto o resto dormia, cativo da tentação.

A angústia o apanhou, ele suou sangue e proclamou: “Senhor, aparta de mim este cálice, mas que não se faça minha vontade mas a tua”.

Nenhuma prova além da fé a certifica, como também não existem evidências de que a gruta que há no monte, à direita da igreja -conhecida como o túmulo de Maria-, fora o lugar onde Judas deu o beijo da traição que deu origem à paixão de Cristo.

Séculos depois, já em mãos da custódia franciscana, jardineiros como Emile cultivavam sob suas oliveiras milenárias flores que serviam para adornar a Basílica do Santo Sepulcro.

A ciência diz que oito delas têm pelo menos 2 mil anos -um estudo do Conselho Nacional de Pesquisas Italiano, dirigido por Antonio Cimano e Giovanni Gianfate, certificou que o epigeu de pelo menos três dessas árvores é geneticamente igual ao restos de oliveira daquela época.

A fé garante que ali começou a “viacrucis” que levou Jesus a atravessar preso o vale do Cédron -onde a história situa os restos de Absalão, o filho rebelde do rei David, o túmulo de Santiago, primeiro bispo de Jerusalém, e o de Zacarias, pai de João Batista.

E a subir pela colina que ainda hoje conduz à Portão dos Leões, para se submeter à vontade divina. EFE

jm/ff

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