Centenas de ruas vazias dão ar apocalíptico ao centro de Kiev

  • Por Agencia EFE
  • 19/02/2014 22h04
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Arturo Escarda.

Kiev, 20 fev (EFE).- Quilômetros de ruas desertas, com edifícios abandonados pela maioria de seus habitantes, em volta da Praça da Independência de Kiev, conhecida como Maidán, único reduto onde os manifestantes ucranianos de oposição mantêm suas posições no centro da cidade.

Na noite seguinte aos distúrbios, que deixaram um trágico balanço de pelo menos 26 mortos em apenas 24 horas, a impressão de Kiev é apocalíptica, pelo menos nos arredores da praça, coração dos protestos populares.

Ali, no meio da cidadela de barracas levantada há três meses, milhares de pessoas continuam resolvidas a derrubar o presidente Viktor Yanukovich, por não perdoarem sua decisão de não assinar um Acordo de Associação com a União Europeia.

No Maidán, uma parede de fogo de vários metros de altura, alimentada com pneus pelos opositores, separa os manifestantes da polícia antidistúrbios desde a madrugada passada.

Mas após os cordões das forças da ordem, a cidade poderia ser o perfeito cenário de um filme sobre a extinção da raça humana.

“Nem em 1942, com Kiev tomada pelos nazistas, estavam as ruas estavam assim”, comentou Valeri, um taxista cujas raízes se afundam em várias gerações de kievitas e que viu muitas fotografias da cidade invadida por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

Demora mais de uma hora e meia para levar um cliente ao centro em um trajeto que deveria durar no máximo um terço disso.

A polícia revista os veículos em todos os acessos principais à capital para impedir que mais radicais se somem ao grande protesto no Maidán.

Na rodovia de Borispol, que liga o aeroporto homônimo ao centro, centenas de carros e caminhões se amontoam no controle montado pela polícia, obrigados a esperar várias horas para entrar na cidade.

Kiev está sitiada por centenas de antidistúrbios e tropas do Ministério do Interior, que com apoio da polícia, cercaram o centro em três anéis concêntricos praticamente impenetráveis.

Os oficiais do grupo especial antidistúrbios “Berkut” desdobrados nas ruas Grushevki e Institutskaya, onde ontem aconteceram os momentos mais violentos dos distúrbios, recebem com gesto pouco amável os jornalistas ocidentais.

“Jornalista? Não pode passar. Não fazem mais do que contar mentiras”, disse um oficial a um jornalista que procura há mais de duas horas uma brecha no dispositivo de segurança para chegar a seu hotel, isolado do resto da cidade e no meio de um deserto de barricadas abandonadas, sem mais seres vivos ao redor que uns quantos antidistúrbios.

Depois de uma barricada ser desmontada, centenas de “Berkut” se interpõem entre o Maidán e a rua Institutskaya, um dos três acessos à praça bloqueados para impedir que os manifestantes possam marchar pela cidade.

Mais de um quilômetro adentro, a Institutskaya é o silencioso testemunho do sangue que correu ontem pelo asfalto, salpicado em seus cruzamentos com outras ruas por caminhões e carros queimados pelos radicais.

Somente uma saída foi deixada pelas autoridades aos manifestantes para que possam deixar o Maidán, embora durante a madrugada, o presidente e os líderes da oposição tenham decidido uma trégua.

O dirigente do partido opositor UDAR, Vitali Ktischko, assegurou depois de se reunir com Yanukovich que o presidente ucraniano garantiu que não desalojará pela força a Praça da Independência.

Mesmo assim, as forças de segurança ucranianas anunciaram hoje planos de lançar uma operação antiterrorista em todo o território nacional diante da escalada do confronto nacional.

A violência no centro de Kiev, com centenas de feridos em todos os lados, começou ontem de manhã durante a passeata de milhares de manifestantes rumo a Rada Suprema, justo depois de entrar em vigor a anistia a todos os detidos nos protestos dos últimos três meses.

Os enfrentamentos começaram quando a polícia tentou impedir a passagem de uma grande passeata da oposição que reivindicava a restituição da Constituição de 2004, que limitaria os poderes do presidente. EFE

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