Chile rende homenagem a Salvador Allende no aniversário de 41 anos do golpe

  • Por Agencia EFE
  • 11/09/2014 18h30

Gérard Soler.

Santiago do Chile, 11 set (EFE).- O Chile prestou nesta quinta-feira uma homenagem ao presidente Salvador Allende, morto há 41 anos durante o golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet no dia 11 de setembro de 1973 e que abriu o caminho para uma ditadura militar que causou milhares de mortes e desaparições.

A presidente Michelle Bachelet liderou no Palácio de la Moneda, a sede do governo, o principal evento comemorativo, mas os atos de lembrança e homenagem se repetiram em antigos centros de reclusão e tortura durante o regime, como a Villa Grimaldi e o imóvel Londres 38.

Na sede do governo, o mesmo lugar onde Allende se suicidou no dia do golpe militar, mais de 400 pessoas renderam homenagem à memória do líder socialista.

Entre os convidados da cerimônia estavam Isabel Allende, presidente do Senado e filha do falecido presidente, antigos colaboradores de seu governo (1970-1973), os ex-presidentes Eduardo Frei e Ricardo Lagos, além de parlamentares dos partidos governistas.

A presidente Bachelet destacou em seu discurso que o 11 de setembro representa uma data “de dor e de perda” para a sociedade chilena, mas evoca também a coragem de homens e mulheres que morreram em defesa da democracia.

“Hoje, novamente em democracia, o Chile não perdeu a memória. O Chile não se esqueceu de seus filhos perseguidos, de seus filhos exilados, de seus filhos executados, de seus filhos detidos desaparecidos”, declarou.

“Se há uma lição aprendida após o golpe é que no Chile não há, nem pode haver, espaço para a violência”, acrescentou a governante.

As palavras de Bachelet ganham um sentido especial, além do contexto do golpe de Estado, pelo atentado a bomba ocorrido na última segunda-feira no metrô de Santiago e que deixou 14 feridos.

A governante condenou todo tipo de violência e reivindicou a vocação chilena de “viver em paz e tranquilidade” em um momento no qual os ataques explosivos deixaram a população em alerta.

Bachelet reiterou o pedido que fez nos últimos dias para que os civis e militares que têm informações sobre o paradeiro dos corpos de presos desaparecidos durante ditadura as entreguem às autoridades.

“Chega de esperas dolorosas e de silêncios injustificados, é o momento de nos juntarmos em busca da verdade e para isso é fundamental que aqueles que têm informação relevante a entreguem”, disse.

Um dos momentos mais emotivos da cerimônia foi quando Bachelet, acompanhada por Isabel Allende e outros familiares do ex-presidente, depositaram flores no Salão Branco do palácio presidencial, que recria o local onde Allende se suicidou.

Isabel Allende quis prestar homenagem aos que perderam a vida pelo retorno da democracia, algo que finalmente ocorreu em 1990, e garantiu que continuará apoiando as associações de vítimas que ainda exigem verdade e justiça.

A vice-presidente do Coletivo de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD, sigla em espanhol), Mireya García, disse à Agência Efe que Salvador Allende foi “a primeira vítima” da ditadura e um exemplo de “bravura e consequência”.

Em relação ao pedido de Bachelet para a entrega de informações sobre o paradeiro das vítimas desaparecidas, Mireya assegurou que considera “difícil” que a esta altura as pessoas que sabem algo decidam falar, mas destacou a importância de se insistir no tema.

“Não podemos seguir com esta mentira institucional que diz que não há informação quando todos sabemos que há. Devemos avançar no que este país necessita, que é encontrar seus desaparecidos e que se faça justiça”, explicou.

Na mesma linha se expressou o ex-presidente Eduardo Frei (1994-2000), que acusou o Exército de não ter colaborado com a Justiça na investigação sobre a morte de seu pai, o também ex-mandatário Eduardo Frei Montalva (1964-1970).

Frei Montalva morreu em circunstâncias não esclarecidas em 1982 em uma clínica de Santiago, depois que foi submetido a uma cirurgia no aparelho digestivo, quando liderava uma incipiente oposição à ditadura de Augusto Pinochet.

Como costuma ocorrer na noite anterior ao aniversário do golpe de Pinochet, durante a madrugada desta quinta-feira foram registrados incidentes isolados em alguns pontos da capital. No total, 21 pessoas foram detidas e uma ficou ferida, um policial que sofreu uma lesão em um olho.

Um micro-ônibus do transporte coletivo e outros veículos foram incendiados e apedrejados.

Além disso, uma mulher de 68 anos morreu horas depois de ser atingida por um disparo na cabeça, mas a polícia está averiguando se esse incidente está relacionado com os distúrbios frequentes e trabalha com a hipótese de que a vítima foi atingida por uma bala perdida. EFE

gs/rpr

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