Chile, um país acostumado com terremotos e tsunamis

  • Por Francisco de Assis
  • 17/09/2015 15h49
Francisco de Assis/Jovem Pan Terremoto destruiu o Chile em 2010

Quando apareceram as primeiras notícias de que o terremoto no Chile havia refletido no Brasil, muita gente ficou assustada. Até mesmo a redação da Jovem Pan foi afetada. Primeiro, as cadeiras se mexendo sozinhas; depois o chacoalhar das cortinas e a indescritível sensação de náusea.

-Para nós, brasileiros habituados com a relativa sensação de paz da natureza, o tremor chamou a atenção. Mas, do outro lado da América do Sul, na costa do Oceano Pacífico, o susto nada mais representa do que o balançar do pêndulo de um relógio, que tempo após tempo se repete.

Perto de outros desastres, o terremoto desta quarta-feira não assustou muito. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, o cônsul geral do Brasil no Chile, Flávio Bonzanini, avaliou que “os danos foram relativamente pequenos dada a magnitude do terremoto” de 8,4 pontos na escala Richter. Até o momento desta matéria, o número de mortos chegava a 10 pessoas.

É impossível não traçar qualquer tipo de paralelo com a experiência vivida pelos Chilenos em 2010, quando morreram 521 pessoas. Escombros por todos os lados, pilhas de corpos revestidos em sacos pretos e máscaras distribuídas para conter o mal cheiro, intermináveis réplicas do tremor. Tudo isso constrói uma cena absolutamente chocante para quem testemunha. Isso sem contar a invasão de ondas gigantes, que fazem com que barcos fiquem ao lado de prédios de 15 andares, como se ali pudessem estacionar sem interferir no dia a dia da cidade.

A administradora, Paola Oliveira, tem as lembranças do terror que jamais serão esquecidas: “É o fim do mundo. Igual ao que a gente vê nos cinemas”. Ela estava em Talcahuano, quando a cidade foi sucumbida pela força do mar: “Destruiu tudo. O porto e o centro da cidade acabaram. Não sobrou nada”, acrescentou o policial Pedro Buchione. Com então 30 anos, o chileno jamais havia visto algo parecido: “Foi loucura, um caos total. As pessoas gritavam com muito medo. Não houve tempo para fugir. Quando vimos a onda já estava chegando. Quem estava na orla morreu. Poderiam ter nos avisado com alguma antecedência para que pelos menos pudéssemos fugir. Nada disso foi feito”.

O dia a dia com os tremores

Daquele 27 de fevereiro de 2010 para cá, nove terremotos ocorreram no Chile, ocasionando pelo menos 22 mortes.

O maior terremoto do país, porém, ocorreu em Chillán em 24 de janeiro de 1939, com 5.648 mortes contabilizadas. Outros tremores, como Valparaiso em 1906 (3 mil mortos) e Valdívia em 1960 (2 mil mortos) também fazem parte da lista dos piores epicentros da história do país, mas, nenhum deles, destruiu tanto quanto Chillán que, não por acaso, é considerada a Capital dos Terremotos no mundo.

“Nenhum outro lugar no Chile treme mais do que aqui. A cada 100 anos, mais ou menos, um grande tremor acontece por aqui. Foi assim em 1718, 1835, 1939 e em 2010”, contou o restaurador Antonio Solis, 47 anos. “Esta é uma cidade acostumada com terremotos. Estamos habituados a isso. Cada um de nós já viveu um terremoto antes. Os mais jovens, que até então haviam crescido com as histórias dos pais, agora já sabem bem o que é isso. Não há em Chillán ninguém que não tenha vivido um terremoto”, acrescentou.

Bernardo Jorge Gonzalez tinha 77 anos quando a terra voltou a tremer na cidade, em 2010. Pouco para ele que já tinha em seu currículo o maior tremor da história: “Todos estamos acostumados a perder parentes e amigos. Faz parte da nossa realidade. Não sei dizer ao certo quantas pessoas da minha família morreram porque em 1939 tudo virou pó. Não sobrou nada. Por isso se pode dizer que aquele foi um terremoto de muitos estragos para a nossa comunidade.”

A explicação para tamanha violência encontra-se debaixo do mar, onde as placas tectônicas de Nazca e Sul-Americana se encontram. Elas movimentam-se em sentidos opostos e causam, ainda, atividades vulcânicas. Por essa razão, diante da cordialidade de um povo  acostumado a receber seus visitantes com um bom vinho, está a certeza de que o terremoto de 16 de setembro de 2015, lamentavelmente, não será o último. Sim, virão outros…

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