China deixará de usar órgãos de presos executados para transplantes em 2015

  • Por Agencia EFE
  • 05/12/2014 03h51

Pequim, 5 dez (EFE).- A obtenção de órgãos de presos executados – sem a permissão dos mesmos – para transplantes na China, uma prática muito criticada por organizações de direitos humanos, acabará em 2015 na parte continental do país asiático, publicou nesta sexta-feira a imprensa estatal.

“A partir de 1º de janeiro, a China acabará com sua dependência de órgãos de prisioneiros executados para transplantes, o que significa que as doações serão sua única fonte de órgãos”, anunciou o médico Huang Jiefu, diretor do Comitê de Doação de Órgãos e Transplantes.

Os principais centros de transplantes já deixaram de utilizar os órgãos de prisioneiros condenados à morte, segundo Huang, que detalhou que cerca de 10 mil transplantes são feitos na China continental por ano e que aproximadamente 300 mil pacientes se encontram na fila de espera por um órgão.

Diversas autoridades chinesas anunciaram em várias ocasiões o fim dessa prática controversa, mas esta é a primeira vez em que uma data concreta é especificada.

No entanto, a decisão não foi divulgada pela agência oficial chinesa “Xinhua”, habitual porta-voz do governo e o veículo que costuma ser o primeiro a anunciar medidas desse calibre.

A notícia foi recebida com cautela por organizações de direitos humanos do país, que consideram “imoral” a utilização de órgãos dos presos, sem o consentimento dos mesmos.

“É uma boa notícia, mas temos que ser precavidos com o anúncio. Devido à grave falta de órgãos, os enormes lucros gerados pelo comércio ilegal dos mesmos, a corrupção entre o conjunto de funcionários, além de um sistema obscuro de pena de morte – as execuções continuam sendo um segredo de Estado -, a prática de usar órgãos de condenados pode não acabar tão cedo”, disse à Agência Efe, Maya Wang, da Human Rights Watch.

A China possui um dos índices de doação de órgãos mais baixos do mundo. Apenas 0,6 pessoas em 1 milhão de cidadãos se comprometeram a doar seus órgãos quando morrerem, revelou o doutor Huang Jiefu.

“O que não podemos negar é que há duas razões por trás do lento desenvolvimento das doações de órgãos na China: além da falta de entusiasmo devido à mentalidade tradicional, as pessoas também se preocupam, pois não sabem se seus órgãos serão administrados de maneira justa e aberta”, destacou Huang.

Além disso, criticou que o número de hospitais qualificados para realizar transplantes, um total de 169 atualmente, está “longe de ser o ideal”.

No entanto, Huang se mostrou otimista sobre o futuro, já que, segundo seus registros, as pessoas estão cada vez mais propensas a doar.

“Só 1.448 pessoas doaram entre 2010 e 2013, mas esse número (de janeiro deste ano até agora) chegou a 1,5 mil. Acredito que essa situação tende a melhorar”, destacou.

Segundo dados oficiais, entre 2010 e 2 de dezembro de 2014, ocorreram um total de 2.948 doações públicas com 7.822 órgãos. EFE

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