China responde a tragédia com demissões de responsáveis em porto de Tianjin
Paloma Almoguera.
Pequim, 18 ago (EFE).- O governo chinês iniciou nesta terça-feira o expurgo de responsáveis pela tragédia do último dia 12 em um terminal de contêineres no porto de Tianjin, no norte da China, tanto na companhia proprietária do armazém como na administração regional.
Sem que ainda tenha sido revelado oficialmente que provocou as duas explosões, que deixaram 114 mortos e 57 desaparecidos, as autoridades chinesas decidiram começar a apontar possíveis culpados.
Hoje o jornal de Tianjin publicou que uma dezena de diretores da companhia proprietária do armazém, Ruihai International Logistics, estão sob custódia policial, entre eles o presidente, Yu Xuewei, e o vice-presidente, Li Liang.
No entanto, o organograma da companhia é controvertido, já que, segundo a prestigiada revista financeira “Caijing”, quem “realmente a controla” é Dong Mengmeng, filho do ex-diretor do Escritório de Segurança Pública do Porto de Tianjin.
Além disso, a empresa operou durante meses sem a documentação necessária para lidar com produtos químicos perigosos, como é o caso do cianureto de sódio que os contêineres armazenavam, revelou hoje a agência oficial “Xinhua”.
O escândalo também respingou nas autoridades locais: o jornal da cidade, porta-voz do Partido Comunista (PCCh), informou hoje que vários funcionários de médio escalão de Binhai, o distrito portuário de Tianjin, estão sendo investigados, suspeitos de terem aceitado subornos.
Mas o anúncio mais inesperado veio mais tarde, quando o governo chinês revelou ter aberto uma investigação contra o responsável de Segurança do Trabalho do país, Yang Dongliang, por “sérias violações de disciplina”, eufemismo oficial para se referir à corrupção, sem vinculá-lo diretamente com a tragédia em Tianjin.
Foi ali que Yang viu sua carreira decolar há duas décadas, desde seu início em uma companhia de produtos químicos em 1994 até sua etapa como o máximo chefe do PCCh na cidade portuária entre 2007 e 2012, que combinava com seu cargo de prefeito.
Yang tinha participado até na segunda-feira das reuniões do Conselho de Estado (governo) para dirigir os trabalhos de resgate e a investigação do desastre, informou ontem a “Xinhua”, e chegou a estar presente no local.
O Conselho de Estado anunciou hoje que montou uma equipe, liderada pelo vice-ministro de Segurança Pública, Yang Huanning, para determinar responsabilidades e definir “a gravidade e natureza do acidente”, e que “punirá severamente os responsáveis”.
Também a Suprema Corte anunciou no domingo o início de uma investigação para investigar se houve negligências.
Tanto os anúncios, assim como as detenções, são uma espécie de resposta ao clamor da sociedade chinesa e dos familiares das vítimas para saber o que aconteceu, em um país com grande desconfiança com a gestão estatal de catástrofes após experiências como a do terremoto de Sichuan (2008) e o desastre do “trem bala” de Wenzhou (2011).
Nesses casos, a gestão do governo chinês foi muito criticada e, em particular no segundo, a população chegou a pensar que o verdadeiro número de mortos estava sendo ocultado.
Anos mais tarde foi revelada uma extensa rede de corrupção no setor ferroviário que acabou com a condenação a morte em 2013 do ministro de Ferrovias, Liu Zhijun.
Não seria a primeira vez, portanto, que o governo procura um bode expiatório de peso no meio de fortes pressões sociais para saber o que realmente aconteceu, em meio aos temores de uma catástrofe ambiental em um dos portos mais ativos da China.
O Ministério da Segurança Pública confirmou que o terminal continha pelo menos três mil toneladas de 40 produtos químicos perigosos, entre eles 800 toneladas de nitrato de amônio, 700 toneladas de cianureto de sódio e 500 toneladas de nitrato de potássio.
Até agora, segundo as autoridades locais, os especialistas limparam entre 150 e 160 toneladas de cianureto de sódio.
Os químicos contaminaram “dezenas de milhares de toneladas” de água na cratera criada pelas explosões no armazém, e milhares de toneladas de água no porto, situação que pode piorar devido à previsão de chuva para os próximos dias. EFE
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