Cidadãos da Coreia do Norte são condenados à precariedade profissional no Sul

  • Por Agencia EFE
  • 16/02/2015 10h28

Atahualpa Amerise.

Seul, 16 fev (EFE).- Trabalhos ruins, salários abaixo da média e discriminação: é isso o que inúmeros norte-coreanos que deixam para trás a fome e a repressão da ditadura dos Kim podem encontrar no mercado de trabalho da competitiva Coreia do Sul.

Esses refugiados estabelecidos no Sul obtiveram em 2014 um salário médio mensal de 1,47 milhão de wons (R$ 3.722), valor 33% menor do que o recebido pelos sul-coreanos, conforme uma pesquisa divulgada nesta semana em Seul pela Fundação Hana.

Essa pesquisa revela também que essas pessoas trabalham uma média de 47 horas por semana, três a mais que os empregados nascidos na Coreia do Sul.

Financiada pelo governo de Seul, a pesquisa evidencia as dificuldades de adaptação que o grupo sofre por conta de fatores como as barreiras econômicas e culturais ou a discriminação legal e social no país de acolhimento.

“Assim, os norte-coreanos costumam acabar nos postos de trabalho de pior qualidade, com salários baixos e precárias condições”, explicou à Agência Efe Katty Young Sun Chi, do departamento de assuntos internacionais da ONG North Korea Strategy Center (NKSC), que organiza em Seul um programa de formação para facilitar a integração profissional desse público.

Uma das principais barreiras é a legal. Embora uma parcela significativa dos norte-coreanos tenha formação superior, o Sul se nega a validar seus diplomas, e eles acabam indo trabalhar em obras, como garçons ou limpando casas.

Desde a Guerra da Coreia (1950-1953) até dezembro do ano passado, 27.518 refugiados norte-coreanos conseguiram se instalar na próspera Coreia do Sul, segundo dados provisórios do Ministério da Unificação, que publicará os números oficiais em março.

A lacuna cultural entre o sistema comunista do Norte, ancorado em tempos de Guerra Fria, e o capitalista do Sul, onde a competitividade está em cada aspecto da vida, pesam sobre os ombros dos refugiados.

“No Norte, dá no mesmo trabalhar muito ou pouco, já que você vai receber o mesmo. Além do mais, eles não estão acostumados a ter um chefe, calcular as despesas ou chegar no horário no trabalho”, detalhou Katty Young Sun Chi.

Assim, muitos norte-coreanos têm dificuldades para se manter em seus postos, e alguns chefes da Coreia do Sul preferem não contratá-los para diminuir os problemas, embora, como dado positivo, apenas 6,2% permaneceram desempregados em 2014, em comparação aos 9,7% em 2013.

O relatório publicado pela Fundação Hana revela ainda que 67,6% dos entrevistados se consideram satisfeitos com sua nova vida no Sul. No entanto, suas aspirações profissionais se deparam com outra grande barreira, talvez a mais cruel de todas: a discriminação social.

Com o materialismo como principal bandeira e o orgulho de ter passado da pobreza à opulência em apenas 50 anos, na Coreia do Sul a população olha de nariz em pé para os seus famintos irmãos de sangue do Norte.

“O sotaque e a maneira de pensar também são diferentes, por isso é difícil construir relações e contatos, algo fundamental na hora de crescer profissionalmente no Sul”, afirmou Katty Young Sun Chi, que lembra a dificuldade que os cidadãos do Norte têm em aprender inglês em um dos países mais avançados no âmbito educacional. EFE

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