Cinema e teatro iranianos se mobilizam para salvar uma jovem da forca
Ana Cárdenes.
Teerã, 18 abr (EFE).- O cinema e o teatro iranianos, que têm figuras de peso como o diretor vencedor do Oscar Asghar Farhadi, se mobilizaram para salvar da forca Reihane Yabari, uma jovem de 26 anos condenada à morte por ter matado um homem que, segundo a moça, tentou estuprá-la.
Doze atores famosos e dezenas de representantes do mundo da cultura iraniana, além de estudantes, foram à última audiência realizada para mediar entre a jovem e os parentes da vítima, o médico Morteza Abdolali Sarbandi, para tentar impedir a iminente execução.
Yabarí, decoradora de interiores e filha da famosa atriz Shole Pakravan, foi condenada à morte em 2009 segundo a “quesas” (lei islâmica de “retribuição” que exige o pagamento de sangue com sangue) e será executada se não tiver o perdão dos parentes.
A jovem atuou quando criança em uma das séries de Farhadi – diretor de “A Separação”, Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012 – que enviou uma carta aberta à família do morto para lhes pedir perdão.
“Perdoar não é só salvar a vida de uma pessoa, é um ato simbólico e uma chamada a todos para deixar passar e perdoar o próximo”, diz na carta o cineasta, para quem “talvez o destino do sangue derramado nessa desgraça seja ser útil para presentear o grande conceito do perdão aos demais”.
“Compreendo vocês e lhes peço sinceramente que a perdoem”, implorou Farhadi.
A diretora Rakhshan Bani Etemad, os atores Yamshid Mashayeji e Behzad Farahani e as atrizes Bahare Rahnama e Haniyeh Tavasoli são alguns dos envolvidos no movimento para salvar Yabari, que tinha 19 anos quando o incidente aconteceu.
Mais de 130 mil pessoas assinaram uma carta divulgada pela plataforma online Avaaz para pedir a suspensão da execução ao entender que a jovem “atuou em defesa própria e não merece morrer”.
No Facebook surgiram várias campanhas, com páginas como “Eu sou Reihane Yabari” e “Vamos salvar Reihane Yabari da execução no Irã”, com apoio de milhares de seguidores.
O relator especial da ONU para os direitos humanos no Irã, Ahmed Shaheed, também emitiu nesta semana um comunicado no qual pedia às autoridades iranianas a não levar adiante a execução e realizar um novo processo no qual “os direitos” da acusada sejam garantidos.
A seu entender, parte da acusação se baseou em uma confissão de Yabari forçada com torturas.
Segundo a versão da condenada, o médico Sarbandi, ex-empregado do Ministério de Inteligência iraniano, a contratou para ajudá-lo a decorar seu escritório e a levou a um prédio onde tentou estuprá-la, ao que ela reagiu se defendendo com uma pequena faca com a qual o atingiu no ombro.
A investigação mostrou que, no caminho, o médico havia parado para comprar tranquilizantes, supostamente para imobilizar a menina, que se encontraram em um copo de suco no local do crime.
O advogado de defesa, Abdolsamad Jorramshahi, alega que a vítima não morreu pelo ferimento provocado pela pequena faca, mas por uma pessoa identificada como “Sh”, que não foi detida “por motivos políticos”.
“A família da vítima sabe que Reihane não é a assassina”, disse à agência “Irna”.
Neste momento, a única solução para evitar a execução é “que os parentes a perdoem”, explicou à Efe o advogado, que prevê que, se não houver perdão, a sentença será executada em um mês.
Por sua vez, o promotor Shabani declarou à agência iraniana “Tasnim” que “a evidência é incompatível com os argumentos de Reihane”, embora reconheça que “infelizmente, alguns aspectos ainda não estão claros”.
Segundo ele, a sentença de “retribuição” é “correta” e não será impedida pela família.
O caso abriu um debate sobre a possibilidade de legítima defesa das mulheres contra ataques sexuais sem enfrentar depois a pena capital.
Shahindojt Moulaverdí, vice-presidente do governo para Mulheres e Família, disse à Efe que o Executivo “está tentando atrasar um pouco o caso” para dar tempo a que a família mude de opinião, porque “o Poder Judiciário não pode perdoar, a única solução é que os parentes próximos perdoem”. EFE
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