Clara López: a candidata colombiana que se espelha em Bachelet

  • Por Agencia EFE
  • 23/05/2014 19h34

Ana Gómez.

Bogotá, 23 mai (EFE).- Nascida em uma família burguesa e forjada em ideias progressistas, a colombiana Clara López concorre à presidência da Colômbia e entra no grupo de mulheres líderes da esquerda latino-americana, cujo máximo expoente é a chilena Michelle Bachelet.

A luta contra a desigualdade, seja quanto a gêneros ou condições sociais, é seu cavalo de batalha nesta campanha às eleições deste domingo, à que concorre com o lema “Colômbia por um bom caminho” e oferece mudar o rumo porque, segundo sua opinião, a paz é possível.

Embora a Colômbia nunca tenha tido uma presidente mulher, e nem sequer um presidente de esquerda, Clara acredita que seu país pode se somar a “esta corrente que se abre em todo o continente com mulheres em posições de poder”, revelou em entrevista à Agência Efe.

“É preciso ver Michelle Bachelet como um grande exemplo. Foi presidente e se reelegeu recentemente com um programa que nós respeitamos e olhamos com muita coincidência, especialmente em temas educativos e de luta contra a desigualdade”, afirmou.

Aos 64 anos, Clara, que está na terceira posição nas enquetes com 10,1% das intenções de voto, é uma das mulheres mais cultas e preparadas da política colombiana, não em vão é sobrinha do ex-presidente liberal Alfonso López Michelsen (1974-1978), de quem foi secretária econômica; e de Alejandro Obregón, um dos mais reconhecidos artistas plásticos do país.

Crescer em um lar rico, com um pai maçom e uma mãe que aprendia Filosofia quando as mulheres se dedicavam ao cuidado da família, lhe abriu a porta para estudar nos Estados Unidos, mas também a se sensibilizar com as desigualdades na América Latina, pois conheceu personagens como o ex-presidente chileno Salvador Allende.

Estudou Filosofia em Harvard, carreira que não concluiu. Depois fez Economia na mesma universidade, e já com 46 anos, voltou às salas de aula para terminar Direito na Universidade dos Andes de Bogotá. Atualmente, é candidata ao doutorado em Direito Tributário e Financeiro pela espanhola Universidade de Salamanca.

Quando estava em Harvard, aprendeu que seus caprichos não seriam pagos por seu pai e trabalhou como garçonete e faxineira, ao mesmo tempo em que participou ativamente nas causas do momento contra a Guerra do Vietnã, pela liberdade de Nelson Mandela e a favor da igualdade de sexos.

Nos anos 70, teve dois romances: com um rico canadense se casou, posteriormente condenado por vender informação bancária privilegiada; e outro não menos surpreendente, foi um então “fogoso jovem liberal” chamado Álvaro Uribe.

O breve namoro com quem hoje encarna a direita mais radical na Colômbia se revelou em plena campanha por causa da publicação do livro “Los suspirantes”, no qual ela mesma confessa que inclusive guarda “um discreto anel” dado por Uribe.

Seu companheiro de vida definitivo seria Carlos Romero, um político comunista que passou até 12 vezes pela prisão, uma relação com enormes custos sociais que sempre defendeu ao máximo inclusive perante a família, e que fortaleceu seus ideias de esquerda até se transformar em dirigente do Polo Democrático Alternativo (PDA).

Séria, firme, solidária e eficaz, Clara é boa conhecedora do setor público, pois foi fiscal, vereadora, auditora geral, secretária do governo de Bogotá e prefeita da capital encarregada depois que seu chefe, Samuel Moreno (2008-2010), fora preso por corrupção.

Quando terminou esse breve mandato na prefeitura em 2011, Clara contava com uma popularidade de 78%.

“As mulheres somos mais dadas às regras amistosas, ao cuidado, a gerar consensos, que é o que a Colômbia está necessitando”, manifestou ela à Efe ao ratificar que suas apostas pela paz e o mandato feminino se refletem em sua companheira Aída Avella, aspirante à vice-presidência.

As duas viveram uma triste página da história da Colômbia, pois militavam na União Patriótica (UP) quando o partido, que nasceu de um acordo das Farc com o governo de Belisario Betancur (1982-1986), se tornou alvo da violência do Estado e dos paramilitares, que assassinaram cerca de quatro mil simpatizantes.

Por causa de um atentado com lança-foguetes, Aída Avella ficou 17 anos exilada. Voltou da Suíça há poucos meses para aspirar à presidência pela nova UP, mas no caminho decidiu somar suas forças com Clara e apresentar uma candidatura conjunta da esquerda. Clara também viveu um tempo exilada na Venezuela.

São duas mulheres que aspiram a paz com as guerrilhas, gerar uma mudança radical na estrutura econômica com justiça social. Duas mulheres que representam a reconciliação de uma Colômbia em paz. EFE

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