CMN fixa meta de inflação de 2017 a 4,5% pelo IPCA, mas reduz margem a 1,5 ponto
O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a meta de inflação medida pelo IPCA em 4,5 por cento ao ano para 2017, mas reduziu a margem de tolerância para 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ante os atuais 2 pontos, afirmou o Ministério da Fazenda nesta quinta-feira.
A meta de inflação segue no patamar de 4,5 por cento desde 2005, quando a banda era de 2,5 pontos percentuais. A tolerância de 2 pontos passou a valer em 2006. Para os anos de 2015 e 2016, o CMN manteve a meta em 4,5 por cento com margem de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Diante do cenário de fragilidade da economia, inflação elevada e baixa confiança sobre o governo, houve debate dentro do CMN –formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central– para que a meta de 2017 fosse reduzida.
Dentro do Ministério da Fazenda, a defesa era de mexer no objetivo para 2017 a fim de sinalizar o comprometimento com o combate à inflação e restaurar sua credibilidade. Dentro do BC, por outro lado, havia a defesa de não mudar a meta diante da preocupação com o atual cenário, com fortes ajustes fiscais ocorrendo e inflação nas alturas.
Por outro lado, reduzir a tolerância para a inflação pode levar o BC a ter de apertar ainda mais a política monetária, que desde outubro já elevou a Selic em 2,75 ponto percentual, para os atuais 13,75 por cento. E como a inflação deste ano deve ficar em torno de 9 por cento –ou seja, fora da meta–, fazer com que ela convergisse para um alvo menor no futuro exigiria ainda maior esforço no presente.
Uma fonte do Ministério da Fazenda, que pediu anonimato, afirmou que a decisão de apenas reduzir a banda da meta para 2017 não deve pesar na política monetária agora, argumentando que as projeções do mercado e de especialistas já apontam para o IPCA em 4,5 por cento em 2017. “Apenas (o governo) tentando recuperar credibilidade sem esforço”, resumiu.
Outra importante fonte da equipe econômica foi na mesma linha, afirmando que a decisão não altera a política monetária “em curso”.
O BC endureceu seu discurso e vem reiterando o compromisso em levar o IPCA a 4,5 por cento no final do ano que vem, fazendo o que for necessário e com “determinação e perseverança” para tanto, o que tem levado investidores a apostar que a Selic pode subir até 14,75 por cento ao final do atual ciclo de aperto monetário, que já levou a taxa básica de juros ao maior patamar desde dezembro de 2008.
RECUPERAR CREDIBILIDADE
Muitos no mercado financeiro defendiam a ideia de reduzir a meta mais à frente. Pesquisa da Reuters divulgada mais cedo mostrou que a maioria dos analistas se mostrou favorável sobre o governo reduzir a meta de inflação para 2017 para buscar recuperar a credibilidade.
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thais Zara, acredita que a decisão de reduzir a banda para 2017 sinaliza o compromisso do governo com a redução da inflação. “É uma medida importante… Reforça o trabalho que o Banco Central vem fazendo de melhora da credibilidade, reconquista da confiança dos agentes”, disse.
No entanto, a medida pode levar à necessidade de juros mais elevados, o que pode ser refletido no mercado nas próximas sessões.
“O efeito prático disso é que a curva de juros tende a subir um pouco mais porque você vai ter que ter uma persistência mais forte da política monetária para chegar ao mesmo resultado. Hoje até já subiu o juro antecipando um pouco isso. É bom que não mudaram o centro da meta”, disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
Apesar do duro aperto monetário conduzido pela autoridade monetária, a inflação segue em níveis persistentemente altos, influenciada principalmente pelo ajuste de preços administrados e pela valorização do dólar.
Em maio, o IPCA subiu 8,47 por cento em 12 meses, acima do esperado pelo mercado e na maior taxa acumulada desde dezembro de 2003. A prévia para o desempenho do índice apontou a continuidade da tendência, com o IPCA-15 registrando alta em 12 meses de 8,80 por cento.
O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff enfrenta uma maré de notícias negativas no front econômico enquanto tenta colocar de pé um ajuste fiscal para reequilibrar as contas públicas e alcançar neste ano superávit primário de 66,3 bilhões de reais, ou 1,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
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