Colômbia decide nas urnas futuro do processo de paz

  • Por Agencia EFE
  • 12/06/2014 20h11

Ana Gómez.

Bogotá, 12 jun (EFE).- Os colombianos elegerão no domingo o próximo presidente do país no segundo turno das eleições presidenciais, mas também decidirão o futuro do processo de paz com as Farc, pois os candidatos, Juan Manuel Santos e Óscar Iván Zuluaga têm posições opostas sobre como acabar com o conflito armado que já dura 50 anos.

As opções, definidas no primeiro turno, realizado em 25 de maio, são duas: a paz do presidente e candidato à reeleição Juan Manuel Santos, ensaiada durante mais de ano e meio nas negociações de Havana; ou a do aspirante uribista, Óscar Iván Zuluaga, que endurecerá as condições para a guerrilha para seguir o diálogo.

Tendo a seu favor a experiência à frente de um processo de paz que chegou mais longe do que qualquer outro na história da Colômbia, Santos assumiu a derrota no primeiro turno (25,69%) diante de Zuluaga (29,25%) com uma mensagem contundente: “Os colombianos escolherão entre o fim da guerra ou a guerra sem fim”.

O presidente se referia às duras críticas feitas contra o processo de paz desde o início do diálogo tanto por Zuluaga como pelo movimento político a que pertence, o Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente e senador eleito, Álvaro Uribe.

Os uribistas questionam a decisão de Santos de sentar para negociar com uma guerrilha que definem como “terrorista”, que não tenham sido divulgados publicamente os três pré-acordos alcançados nos temas de terras, participação política e drogas, e criticam o que consideram “complacência” com as Farc, que continuam a combater no país.

No início da campanha, Zuluaga prometeu que, se eleito, suspenderia a negociação, mas após receber a adesão da ex-candidata conservadora Marta Lucía Ramírez decidiu flexibilizar sua posição.

Agora Zuluaga diz que manterá os diálogos, mas estabelecerá como condição que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) declarem um cessar-fogo unilateral e promete linha dura contra os guerrilheiros na justiça, embora começa a avaliar a aplicação de penas reduzidas “em prol da paz”.

No meio deste panorama eleitoral, os candidatos colocaram associações não de todo acertadas.

Enquanto Santos pintou Zuluaga como um “inimigo da paz” que quer manter o país em guerra, o uribista rotulou o presidente de “castro-chavista”, e o acusou de ser próximo à guerrilha e de buscar a impunidade.

Mas a pesquisa de domingo, a última a ser publicada antes da eleição de domingo, mostra uma vantagem de oito pontos para Zuluaga (49%) sobre Santos (41%), o que indicaria que a mensagem santista de escolher entre guerra e paz não teria colado entre os eleitores.

Apenas 30% dos entrevistados considerou estar diante desta questão, e 52% acredita a decisão nas urnas será decidir entre duas formas diferentes de conseguir a paz, chancelando o caminho, ainda difuso, colocado por Zuluaga.

No entanto, Santos é o candidato que mais chances tem de alcançar a paz para 38%, enquanto Zuluaga foi escolhido por 30%.

A proposta de paz de Santos atraiu antigos opositores nos últimos quatro anos, entre eles a candidata esquerdista Clara López, e os progressistas Antanas Mockus, Antonio Navarro e Gustavo Petro, além de movimentos sindicais e indígenas.

O último golpe de efeito, de olho nas eleições, foi o estabelecimento dos princípios que regerão a discussão sobre as vítimas em Havana, roteiro que implica o reconhecimento de responsabilidade do Estado e da guerrilha no conflito e a disposição em repará-las.

Está previsto que pela primeira vez um grupo de vítimas vá até Havana para apresentar propostas para a construção de paz e a reconciliação na Colômbia, reivindicação dos cerca de seis milhões de afetados pelo conflito desde que o diálogo começou.

Enquanto isso, as Farc têm o cuidado de não assumir uma posição e advertem, como fez seu chefe máximo, Rodrigo Londoño Echeverri, “Timochenko”, que Zuluaga e Santos são duas faces da mesma moeda que exigem mobilização da população em torno de uma alternativa política.

“Que Óscar Iván Zuluaga apareça como defensor da guerra não torna Juan Manuel Santos um homem de paz”, alfinetou “Timochenko”, empenhado que a paz não passe pela “rendição da insurgência”. EFE

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