Colombianos sonham em recuperar o pouco que deixaram na Venezuela
Laura Barros.
Cúcuta (Colômbia), 9 set (EFE).- Os colombianos deportados ou que abandonaram a Venezuela para não correr o mesmo risco sonham em poder recuperar o pequeno patrimônio que ficou no país vizinho e muitos se negam a ir aos albergues oficiais com a esperança de atravessar em algum momento a fronteira para aos poucos resgatar seus pertences.
Algumas famílias instaladas em La Playa, uma pequena e pobre comunidade às margens do rio Táchira e que mudou a passagem informal de mercadorias entre ambos os países pela distribuição da ajuda oferecida por particulares a estas pessoas, vivem com essa esperança.
As ruas empoeiradas dessa comunidade começaram a se encher de plásticos que cobrem precárias estruturas de madeiras onde pernoitam homens e mulheres que nutrem a expectativa de voltar a suas casas para recuperar os bens que deixaram para trás há dias.
Apesar de em Cúcuta, capital do departamento do Norte de Santander, e na vizinha Villa del Rosario, as autoridades terem habilitado albergues com tendas e ajuda para estas famílias, alguns preferem ficar em La Playa, a poucos metros da passagem para a Venezuela que permanece fechada desde o dia 19 de agosto.
“Não vou ao abrigo porque depois não posso sair e preciso das minhas coisas”, disse à Agência Efe um jovem de 20 anos, que não quis se identificar.
A alguns metros estão instalados em uma tenda de campanha Ketty, o marido Wilmer, quatro crianças, sua amiga Jenny, sua mãe e sua sogra, que chegaram da Venezuela com quase nada.
“Esperamos para recuperar nossas coisinhas”, relatou Ketty sobre sua decisão de permanecer na região, acrescentando que a mãe e a sogra e as crianças passam a noite em uma igreja evangélica.
Nascida em Sincelejo, capital do departamento caribenho de Sucre, no norte da Colômbia, ela contou que foi à Venezuela para trabalhar, obrigada pela má “situação” econômica.
“Nós somos uma família boa, não a melhor, mas uma família trabalhadora e honrada, porque não estamos acostumados a fazer nada de errado”, argumentou Ketty perante as acusações de paramilitarismo do governo venezuelano, lamentando que sua filha pequena também tenha sido expulsa do país, apesar de ter nascido lá.
Segundo ela, há oito anos, quando chegou à Venezuela, a comida e os serviços públicos eram “muito mais baratos”, mas agora a “situação está ruim”.
Jenny relatou, por sua vez, que os soldados entraram “derrubando a porta” da sua casa no estado venezuelano de Táchira.
“Por lá ficaram a cama, a geladeira, a estufa, os pratos”, enumerou Alcira, de 61 anos, que destacou que costurava por encomenda e vendia cosméticos por catálogos e comidas.
Em uma dessas noites, cidadãos carregados de produtos chegaram à La Playa. Imediatamente, correram para entrar na fila da distribuição de comida, que rapidamente terminou entre expressões de agradecimento.
José María, um advogado de Cúcuta, visitou a região com sua família e alguns amigos levando uma sopa típica que dividiu com os idosos residentes, que também receberam cobertores.
“Vai demorar muito tempo para voltarem e terem sua vida como tal na Colômbia, isto pode ser um problema social em longo prazo”, comentou à Agência Efe José María, que se perguntava qual será o destino destas pessoas quando a ajuda acabar. EFE
lb/cdr/rsd
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.