Com ampla agenda, Cúpula Social busca vitória política por “debate e pressão”

  • Por Agencia EFE
  • 16/07/2015 23h04
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Ricardo Diniz.

Brasília, 16 jul (EFE).- Antes da cúpula de chefes de Estado dos países associados ao Mercosul que será realizada nesta sexta-feira, representantes de movimentos sociais de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela e Bolívia debateram em três dias uma quantidade de pautas tão grande que pode ser encarada como um reflexo da diversidade do continente sul-americano – e de seus problemas.

A 18ª edição da Cúpula Social do Mercosul, realizada no Centro Internacional de Convenções de Brasília, foi justamente a responsável por reunir as reivindicações desses coletivos em um documento que será entregue aos presidentes dos países que formam o bloco.

Reivindicações como a da venezuelana Desireé Cabrera, integrante de um comitê de vítimas dos protestos realizados contra o governo do presidente Nicolás Maduro nos anos de 2013 e 2014.

“Viemos aqui para contar aos países irmãos como foram os incidentes. Pedimos que fosse incluída na declaração o rechaço à ingerência de países estrangeiros na defesa dos direitos humanos de pessoas que, na verdade, são as responsáveis pelos fatos de violência que deixaram 43 mortos”, declarou Desireé à Agência Efe.

A ativista venezuelana citou o exemplo concreto do líder opositor preso Leopoldo López, que, segundo ela, convocou esses atos de violência e usa o tema dos direitos humanos como argumento político para derrubar um governo legalmente constituído”.

Além das demandas específicas de cada país, a Cúpula Social do Mercosul abriu espaço para vozes preocupadas com questões que afligem todos os países do bloco, como lembrou Atiliana Brunetto, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“A realidade dos nossos vizinhos é muito parecida. Afinal, a luta contra o conservadorismo não é localizada, é mundial”, comentou Atiliana à Agência Efe, acrescentando que, em sua primeira participação na cúpula, o MST abordou não só a questão do acesso à terra, mas também do combate à mercantilização da saúde e da defesa da igualdade de gênero.

Presente no evento para defender a “pauta local” da luta contra a redução da maioridade penal no Brasil, Felipe Garcez, diretor cultural da União Nacional dos Estudantes (UNE), também mostrou sua preocupação com “questões continentais”.

“Nossa principal reivindicação foi unir a America Latina contra o golpismo que cerca os nossos países, contra a campanha de difamação das direitas e os cortes em educação, pois defendemos uma educação popular e emancipatória para o nosso continente. A soberania latino-americana passa pela soberania cultural”, disse Garcez.

A enorme quantidade – e diversidade – de pautas foi exemplificada nas declarações à Efe do boliviano David Quispe, da Federação Departamental de Camponeses de La Paz Túpaj Katari.

“Viemos em busca de apoio para reivindicação da Bolívia por um acesso ao mar. Abordamos o racismo contra os bolivianos que vivem no Brasil e também apresentamos nosso respaldo à Argentina tanto pela questão da soberania das ilhas Malvinas, como também em relação ao litigio contra os fundos abutre. E apoiamos os venezuelanos na guerra suja contra os Estados Unidos”, tentou resumir Quispe.

Em meio a tantas reivindicações e exigências, a pergunta que fica é se o documento final da Cúpula Social do Mercosul terá alguma efetividade e encontrará eco entre os presidentes do bloco.

Quispe acredita que sim. “A cúpula social tem que ajudar, nós somos o povo. Os presidentes sao eleitos pelos nossos votos, então eles tem que aceitar nossas criticas e sugestoes. O Estado sem povo não é Estado”, opinou.

Por sua vez, os representantes dos movimentos sociais brasileiros que falaram com a Efe foram menos otimistas.

“O evento nao tem o acúmulo dos movimentos sociais. E nós escutamos as pessoas que estão na base. Mas aqui nós sentimos que não tem esse debate. De qualquer forma, precisamos vir aqui para defender nossas lutas”, comentou Atiliana.

“A gente acredita que a cúpula unifica grande parte dos movimentos sociais, cria debates e documentos para serem enviados aos presidentes. Mas nós, dos movimentos sociais, sabemos que as vitórias acontecem através de um governo ou outro, mas da nossa pressão, e aqui não deixa de ser um espaço de debate e pressão”, concluiu Garcez. EFE

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