Com “vista grossa” da federação, futebol croata está infestado pelo racismo

  • Por Agencia EFE
  • 15/06/2015 15h47
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Vesna Benardic.

Zagreb, 15 jun (EFE).- A aparição de uma suástica no gramado do estádio onde a Croácia recebeu a Itália na última sexta-feira, em partida válida pelas Eliminatórias para a Eurocopa 2016, foi o último exemplo da presença do racismo no futebol do país, que conta com a indiferença da federação para se proliferar.

O escândalo é ainda maior porque o jogo foi realizado com portas fechadas como uma punição da Uefa aos cânticos racistas proferidos pelos torcedores croatas em outro duelo da fase classificatória para o principal torneio europeu de seleções. E os responsáveis por desenhar o símbolo nazista em campo ainda não foram encontrados.

“Nos desculpamos perante todos os espectadores, os visitantes da Itália e os jogadores de ambas as seleções pelo símbolo nazista no gramado do estádio de Poljud”, afirmou em comunicado a Federação Croata de Futebol (HNS) após o incidente.

Apesar de a polícia ainda não ter publicado os resultados da investigação oficial, a suspeita é que o autor do desenho tenha usado uma espécie de ácido para queimar a grama.

A HNS classificou o episódio de “sabotagem e ato criminoso”. O presidente da federação, o ex-jogador Davor Suker, também manifestou sua indignação, afirmando que esperar que os hooligans não triunfem.

A presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarovic, denunciou o incidente, os danos ocasionados ao futebol e ao prestígio do país, reconhecendo que há “um sério problema com os torcedores violentos”.

A Uefa abriu um procedimento disciplinar contra a Croácia “por comportamentos racistas”, sem citar o incidente da suástica ocorrido na partida contra a Itália. O episódio será julgado no próximo dia 16 de julho.

“Espero que a Uefa não expulse a Croácia das eliminatórias (para a Eurocopa), mas não podemos estar seguros de que isso não vai ocorrer”, comentou Robert Matteoni, do jornal “Sport Novosti”.

Segundo dados da emissora pública “HTV”, a HSN teve que pagar nos últimos cinco anos mais de 700 mil euros em multas por causa de diversos incidentes nos estádios.

A mais recente punição, de 55 mil euros, fora o fato de jogar com as portas fechadas contra a Itália, ocorreu devido as palavras de ordem “ustachi” (os nazistas croatas durante a Segunda Guerra Mundial) cantadas pelos torcedores na partida contra Noruega, também pelas eliminatórias da Euro, em março.

Grabar-Kitarovic, que assistiu à partida, se limitou a comentar que “o jogo foi magnífico” (a Croácia venceu por 5 a 0), mas não condenou os cânticos fascistas.

Seu antecessor, Ivo Josipovic, foi muito mais rígido. O ex-presidente deixou de comparecer aos jogos em protesto pela falta de reação da HSN contra o extremismo e o racismo.

Quando o jogador croata Joe Simunic foi punido pela Fifa com dez partidas sem jogar por gritar o lema “ustashi” no final de uma partida em 2013, a federação decidiu não sancionar o jogador, apresentando recurso para defendê-lo.

“É muito ofensiva essa ausência de condenação. Eu estava nas arquibancadas nesse jogo. Entre 60% e 70% dos torcedores cantavam esse tipo de música, mas os organizadores não reagiram uma só vez”, denunciou o sociólogo Drazen Lalic.

O próprio Suker visitou em 1996, quando era jogador do Real Madrid, o túmulo de Ante Pavelic, o chefe de Estado croata aliado com os nazistas.

“Algumas coisas não podem ser apagadas”, afirmou Lalic.

Muitos analistas consideram que, fora a ideologia radical de muitos torcedores, fatos como o da suástica podem prejudicar a HSN e o ex-jogador, dentro de uma guerra interna pelo controle do futebol croata. EFE

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