Como gladiadores modernos, detentos usam muay thai para diminuir suas penas
Nakhon Ratchasima (Tailândia), 15 jul (EFE).- Como se fossem gladiadores modernos, um programa especial permite que detentos tailandeses reduzam suas penas se lutarem com lutadores estrangeiros de boxe ou muay thai em combates organizados entre os muros da prisão.
O americano Moses López caiu ao solo desabado após receber uma cotovelada de um preso tailandês condenado por assassinato, que sabe que seu ataque importa muito mais do que um simples nocaute porque pode ser a chave para uma redução significativa de sua pena.
É o sétimo evento da Associação Mundial de Luta na Prisão, uma iniciativa do promotor estoniano Kirill Sokur, na qual detentos locais enfrentam lutadores estrangeiros de boxe tailandês de diferentes níveis como parte de um programa de reabilitação carcerária.
Sete presidiários acusados de crimes como tráfico de drogas, roubo e assassinato lutaram contra uma equipe formada por pugilistas iranianos, canadenses e azerbaijanos este mês na prisão de segurança máxima de Klong Pai, no nordeste de Bangcoc.
“Comecei a praticar boxe tailandês quando tinha oito anos”, explicou à Agência Efe B.T., condenado por assassinato, enquanto ao redor seus colegas de cela recebiam massagens, aplicavam vaselina no rosto e comprovavam as bandagens nas mãos antes dos combates.
Para participar do programa, co-organizado pelo departamento de prisões da Tailândia, os presidiários têm que ter experiência prévia em boxe ou muay thai e estarem cumprindo pena de longa duração.
Um dos prisioneiros mais experientes e campeão em combates anteriores, N.K., declarou que “ainda faltam oito anos para cumprir. Mas se participo destas brigas, poderei sair em dois ou três anos” .
“Quando sair da prisão lutarei, e se estiver muito velho para brigar ajudarei meus pais na venda popular”, explicou o tailandês.
Os estrangeiros que participam vão, em sua maioria, atraídos pelo prestígio de poder colocar essa experiência no currículo, mas para muitos é uma maneira a mais de aperfeiçoar suas habilidades e ganhar dinheiro.
López, nascido nos Estados Unidos filho de pai mexicano e mãe salvadorenha, confessou que para ele o importante é poder provar que pode continuar lutando, após machucar o ombro em um acidente de trânsito ano passado.
“Isto não vai durar para sempre”, contou o lutador canadense Dave Leduc. “Vi um vídeo em que a polícia critica a violência que esta atividade gera”, para depois acrescentar que “na realidade luto aqui para ter uma boa história para contar aos meus filhos”.
Para Leduc, os presos estão inclusive mais motivados porque “não lutam por dinheiro, lutam por liberdade, e eu só luto por honra e glória”, justificou durante uma das sessões de treino da equipe estrangeira.
No evento, um ambiente festivo para a maioria dos presos e com a música dos Backstreet Boys ao fundo antes do início dos combates, as brigas se inclinaram na maior parte das vezes para o lado dos reclusos.
A primeira troca de golpes, que resultou em um corte na sobrancelha esquerda de um dos iranianos, serviu para despejar qualquer dúvida sobre o grau de dureza do dia.
Dois lutadores, um de cada equipe, foram nocauteados, enquanto o público formado por réus e oficiais explodia em um rugido de aprovação.
Entre o respeito aos rituais ligados à prática do muay thai e a troca de ganchos, diretos e jabs, o ambiente mudava da calma para a máxima tensão em minutos.
Vários dos presos que participam do programa contaram que precisar estar em forma os mantém afastados das drogas na prisão e ajuda a manter um bom comportamento.
Nesta prisão do distrito de Nakhon Ratchasima, os reclusos convivem em celas reduzidas, dormem no chão e passam até 13 horas por dia confinados neste espaço.
O diretor da prisão de Klong Pai, Ari Chaleisuk, destacou os benefícios do programa, que premia os presos participantes com cinco mil baht (R$ 345) depositados em uma conta que só poderá ser acessada quando saírem da prisão.
“O financiamento vem de doações e de antigos lutadores que simpatizam com seus ex-companheiros”, explicou Chaleisuk sobre a origem do dinheiro.
Até o momento, segundo a organização, dois presos conquistaram a liberdade graças a esta iniciativa desde o começo de 2013.
Um deles, o ex-campeão mundial de boxe tailandês Sirimongkol Singwangcha, saiu em outubro de 2013 e abriu um ginásio para crianças. EFE
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