Conselho da Europa reforça distância entre Rússia e Ucrânia

  • Por Agencia EFE
  • 06/05/2014 14h18

Antonio Sánchez Solís.

Viena, 6 mai (EFE).- A Rússia e Ucrânia voltaram hoje a se acusar mutuamente pelo recente aumento da tensão no leste e sul do território ucraniano e demonstraram assim a distância de suas posturas para se alcançar possíveis soluções diplomáticas.

O cenário do novo desencontro foi o comitê ministerial do Conselho da Europa, um órgão focado nos direitos humanos que realizou em Viena (Áustria) sua reunião anual.

Com 30 ministros das Relações Exteriores reunidos na mesma conferência, entre eles o ucraniano, Andrei Deschitsa, e o russo, Sergei Lavrov, o encontro foi marcado pelo conflito da Ucrânia.

O abismo que separa os dois países ficou claro em dois assuntos concretos: a participação que os grupos rebeldes pró-Rússia terão na negociação e o calendário eleitoral.

Lavrov advertiu que enquanto não for dada voz aos “manifestantes” contrários ao governo interino de Kiev, “se vai andar em círculos” na hora de se buscar soluções.

Por isso, o chanceler argumentou que em qualquer futura negociação deve se levar em conta esses grupos, que a Ucrânia considera controlados por Moscou, enquanto Rússia os define como manifestantes que “querem fazer ouvir sua voz”.

Lavrov exigiu além disso que o exército ucraniano se mantenha “neutro” e que não receba ordens para “lutar contra o povo”, em referência à operação lançada por Kiev contra os grupos armados russófonos que controlam alguns edifícios públicos no leste e sul do país

Já o chanceler ucraniano, por sua parte, argumentou que seu governo, que classificou como “legítimo”, representa todas as regiões do país. Deschitsa afirmou que se for realizada uma nova cúpula, como a que reuniu em abril em Genebra os EUA, UE, Rússia e Ucrânia, ela deve manter seu formato e reunir ministros das Relações Exteriores.

Além disso, o chanceler exigiu que a Rússia respeite o calendário e realização das eleições marcadas para 25 de maio.

Lavrov, no entanto, criticou o fato da votação ocorrer durante a operação militar ucraniana e antes da nova Constituição estar pronta. O chanceler russo disse ainda que as eleições só devem ser realizadas no fim do ano, quando o texto estiver feito.

O ministro ucraniano, por outro lado, ressaltou que a data de 25 de maio é sua máxima prioridade agora, e pediu aos seus sócios do Conselho da Europa “que façam todo o possível para eliminar as ameaças externas e provocações apoiadas pela Rússia na Ucrânia” para que as eleições se realizem de forma democrática.

A realização das eleições em maio foi respaldada hoje por “quase todos” os 47 membros do Conselho da Europa, que no entanto não emitiu nenhuma resolução oficial sobre o assunto, segundo contou o anfitrião da reunião, o ministro austríaco das Relações Exteriores, Sebastian Kurz.

Diante da crescente tensão na região, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que não participou da reunião do Conselho da Europa, viajou para Viena para se reunir com seus colegas russo e ucraniano.

Após um encontro improvisado no aeroporto da capital austríaca, o ministro alemão insistiu na realização de uma nova conferência internacional de paz como a de Genebra e instou as partes enfrentadas a pôr fim à violência na Ucrânia.

Steinmeier advertiu que a situação no leste da Ucrânia “segue preocupante” e “piora dia após dia”.

A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), com sede em Viena, fez um pedido para que a tensão na região diminua diante das eleições de maio.

“Se vai haver eleições, o que é preciso é um cessar-fogo. Não se pode imaginar como é votar em uma situação assim, como em parte do leste e do sul da Ucrânia”, disse o presidente rotativo do organismo, o suíço Didier Burkhalter.

“As eleições necessitam de mais segurança para as pessoas que têm que votar”, disse o também chefe da diplomacia suíça, que após a reunião do Conselho da Europa participou além encontro com os três ministros no aeroporto de Viena.

Burkhalter viajará amanhã para Moscou para se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, como parte do trabalho mediador da OSCE no conflito. EFE

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