Construção de presépios em espaços públicos causa polêmica na França

  • Por Agencia EFE
  • 19/12/2014 06h26

Paris, 19 dez (EFE).- A montagem de presépios em lugares públicos é fonte de controvérsias e protestos na França, que, apesar da tradição católica, tem condição de Estado laico e, portanto, prevê a ausência de manifestações religiosas na constituição.

Em paralelo à determinação de retirada de um presépio da sede do Conselho geral do departamento de Vendée – de tradição católica – feita por um tribunal na semana passada, foi liberado o resultado de uma pesquisa revelando que 71% dos franceses são favoráveis a estas representações em locais públicos.

Diante do claro conflito, ações extremistas começam a acontecer, como a queima de um presépio em um pequeno povoado ao leste da França e manifestações contra a prefeitura de Béziers, no sul.

O prefeito de Béziers, Robert Ménard, ex-diretor geral da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), fomentou a polêmica ao colocar um presépio em frente à prefeitura e se recusar a retirá-lo diante dos pedidos de um grupo de moradores, que alegou que tal manifestação feria a lei de 1905 que consagra a separação entre a igreja e o Estado.

A controvérsia, que gera vítimas todos os anos no país, foi incitada por Ménard, que preservou de sua antiga profissão como jornalista a extrema facilidade de criar polêmica. Exibindo seu presépio orgulhosamente para a imprensa, o prefeito ironizou; “Jesus e Nossa Senhora chegaram a um acordo sobre esquerda e direita. Mas, ao contrário do que aconteceu há 2 mil anos, desta vez não serão expulsos”.

Em reação à polêmica, o primeiro-ministro Manuel Valls e a porta-voz da conservadora UMP Nathalie Kosciusko-Morizet, primeiro partido da oposição, ambos muito prudentes, se limitaram a pedir para que não haja maiores controvérsias, que não levam a lugar algum.

Em uma tentativa de mostrar complacência para com todas as religiões, o prefeito de Béziers promoveu a celebração de uma festa judaica, o Hanuká, também na prefeitura. No entanto, acabou causando mais objeções, pois sua atitude foi interpretada como um verdadeiro atentado ao laicismo.

As autoridades de Vandée, no oeste do país, contam com a apelação da decisão de retirada do presépio no Supremo, porque consideram que a instalação “não desrespeita o princípio de laicismo”, mas corresponde a uma “tradição popular francesa milenar”.

No entanto, o artigo 28 da lei de 1905 é taxativo: “Fica proibido exibir qualquer sinal ou emblema religioso em monumentos ou locais públicos, com exceção dos que servem ao culto, como terrenos de sepultura, cemitérios, memoriais, museus e exposições”.

O caso se repete em muitas outras cidades, de todas as vertentes políticas, que por um lado recebem apoio para manterem os presépios e por outro, críticas e protestos de cidadãos que são contra este tipo de manifestação religiosa em locais públicos.

Prefeitos de esquerda de dois distritos em Marselha defenderam tais instalações, por dar continuidade a uma tradição de quase 20 anos.

A igreja católica francesa reagiu de maneira um tanto morna diante da polêmica, o porta-voz, Bernard Podvin, declarou que os presépios, mais do que uma representação religiosa, têm um “aspecto afetivo” para a população. EFE

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