Consulta sobre independência recebe mais de 1,9 milhão de votos na Catalunha

  • Por Agencia EFE
  • 09/11/2014 19h18
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Barcelona, 9 nov (EFE).- Quase dois milhões de cidadãos participaram neste domingo da consulta alternativa sobre uma eventual independência da região autônoma da Catalunha, votação declarada ilegal pelas autoridades da Espanha.

Segundo dados concedidos pelo governo catalão, responsável pela consulta, mais de 1,9 milhão de pessoas, de um censo estimado de 5,4 milhões, tinham comparecido aos centros de votação até as 18h (horário local, 15h em Brasília).

O governo espanhol deixou claro que não dá nenhuma validade nos números fornecidos pelo governo autônomo catalão, visto que a consulta carece de “mecanismos de controle” como um censo prévio ou uma junta eleitoral que preza pela transparência do processo, segundo disseram à Agência Efe fontes do Executivo central.

Os participantes da votação, maiores de 16 anos e com residência oficial na Catalunha, precisaram responder duas perguntas neste domingo: “Você quer que a Catalunha seja um Estado?”, se sim, “Você quer que seja um Estado independente?”.

A votação foi realizada apesar do Tribunal Constitucional espanhol ter suspendido, primeiramente, o plano do governo catalão de realizar uma consulta popular de autodeterminação e, pouco depois, a formulação de uma consulta alternativa com as mesmas perguntas.

Para se esquivar da proibição, as autoridades rebatizaram a consulta como “processo participativo” e confiaram sua execução aos milhares de voluntários que se distribuíram por 1.317 centros de votação em todo o território catalão.

Embora as urnas ainda não tenham sido retiradas, a justiça investiga se o governo catalão incorreu em crimes de desobediência, prevaricação e desvio de dinheiro público.

A Constituição espanhola de 1978 atribui apenas ao governo central o poder de convocar referendos e não contempla a possibilidade da secessão de uma parte do território, já que cabe a todos os espanhóis decidirem sobre o futuro do país.

Apesar da rejeição dos juízes, do governo central e dos principais partidos espanhóis, o presidente catalão, Artur Mas, manteve a consulta popular à qual se comprometeu com os independentistas do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).

Mas manteve neste domingo uma atitude desafiadora, o que aumenta a incerteza na busca por uma saída negociada.

“Se a procuradoria quer saber quem é o responsável, que olhem para mim, o responsável sou eu e meu governo”, afirmou Mas após votar a favor da independência em uma escola de Barcelona.

O governo espanhol considerou “inútil” o “exercício antidemocrático” feito na Catalunha e considerou que o comportamento do presidente catalão “dificulta muito o futuro”, segundo disseram fontes oficiais à Efe.

O líder catalão anunciou há poucos dias que, uma vez realizada a consulta, enviaria uma carta ao presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, para abordar melhoras no autogoverno da Catalunha e iria propor uma consulta popular defensora da soberania “definitiva” com o Estado ao “estilo britânico”.

Rajoy demonstrou em vários discursos públicos sua abertura ao diálogo com Artur Mas, mas sempre com a premissa do respeito à lei e à Constituição.

A Espanha é um dos países mais descentralizados da União Europeia e nele a Catalunha tem uma ampla autonomia com governo, parlamento e polícia próprios.

A recente crise econômica e a recusa das autoridades centrais a outorgar um regime fiscal especial à Catalunha estão na raiz do auge do independentismo nesta região, que produz aproximadamente 20% do PIB espanhol.

O desafio sobre a defesa da soberania coincide com uma série de escândalos que afetaram a Convergência Democrática da Catalunha (CDC), o partido de Mas, que governou a região autônoma por mais de 30 anos.

Seu líder histórico, Jordi Pujol, que foi presidente da Catalunha entre 1980 e 2003, está sendo investigado junto com sua família por possível fraude fiscal e lavagem de dinheiro. EFE

nat/vnm

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