“Contador de Auschwitz” espera sentença por cumplicidade em 300 mil mortes
Berlim, 14 jul (EFE).- O julgamento do chamado “contador e Auschwitz”, o ex-membro da SS nazista Oskar Gröning, deixou nesta terça-feira o Tribunal de Lüneburg (norte da Alemanha) à espera e sua sentença, após a defesa pedir a absolvição do processado, frente aos três anos e meio de prisão que reivindica a promotoria.
A acusação particular, representante de 14 sobreviventes ou parentes de vítimas, qualificou de benigno o pedido da promotoriaa, embora não tenha formulado alternativas, por considerar que toda pena será, em todo caso, simbólica.
Gröning, de 94 anos e acusado de cumplicidade na morte de 300 mil presos judeus de Auschwitz, escutará previsivelmente sua sentença amanhã, ao término de um processo que começou em 21 de abril com uma longa confissão do processado.
Na audiência de hoje, o processado mostrou seu arrependimento, admitiu ter sido consciente dos crimes que foram cometidos em Auschwitz e lamentou não ter atuado “em consequência” muito antes.
O antigo membro da SS já tinha reconhecido na abertura do julgamento sua cumplicidade moral na morte dos confinados nesse campo de extermínio nazista, onde serviu entre 1942 e 1944.
Sua incumbência era expropriar o dinheiro, a bagagem e os demais pertences dos que chegavam como deportados a Auschwitz, contribuindo ao financiamento do Terceiro Reich.
O julgamento esteve marcado por várias interrupções por doença do acusado e também pelo confronto entre este e alguns representantes da acusação particular, familiares das vítimas e sobreviventes do campo.
Gröning pediu perdão aos coletivos de vítimas, seguido pelo gesto de uma destas testemunhas, Eva Kor, de 81 anos, que estendeu a mão ao processado.
Nas audiências posteriores, o processado negou, no entanto, ter tido uma participação direta na seleção dos deportados, entre os que eram destinados a ser trabalhadores forçados e os que morriam imediatamente na câmara de gás por serem considerados demais frágeis ou não aptos para o trabalho.
De acordo com a promotoria, o processado esteve pelo menos em três ocasiões na chamada “rampa da morte”.
As acusações contra ele se centram na chamada “Operação Hungria”, durante a qual chegaram a Auschwitz cerca de 425 mil deportados, dos quais aproximadamente 300 mil foram assassinados.
O processado ingressou na Waffen SS em 1941 e um ano depois começou a servir nesse campo de extermínio, onde se encarregou de deter os pertences dos que chegavam e de fazer chegar seu dinheiro e demais objetos de valor a Berlim.
O processo de Gröning, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, é considerado um expoente de justiça tardia contra crimes de guerra.
Seu precedente mais direto foi a condenação a cinco anos de prisão ditada em 2011 contra o ucraniano John Demjanjuk, que foi guarda voluntário no campo de Sobibor.
O processo contra Demjanjuk foi muito mais longo que o de Gröning e, ao contrário deste, o acusado não se pronunciou nunca sobre as acusações, acompanhando as audiências sempre em silêncio, na maca ou cadeira de rodas.
Esse processo também foi dificultado por várias interrupções por razões de saúde do acusado, que morreu meses após escutar sua sentença em uma residência de idosos.
Com sua pena foi criada, no entanto, jurisprudência para julgar por crimes de guerra não só os que intervieram diretamente nestes, mas também os considerados cúmplices da maquinaria da morte nazista. EFE
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