Contra o esquecimento, projeto em Berlim dá voz às memórias do Holocausto
María Zuil.
Berlim, 24 jun (EFE).- A Fundação para o Monumento aos Judeus Assassinados inaugurou nesta semana o arquivo digital “Sprechen trotz allem” (“Falar apesar de tudo”, em tradução livre) com os depoimentos em vídeo de 72 sobreviventes do Holocausto para lembrar o genocídio nazista, que custou a vida de seis milhões de judeus.
“Eu era criança. Ficou gravado na memória tudo o que vi em Auschwitz e outros campos. Vivi, escutei e experimentei e, após a guerra, soube que tinha que contar e dar um sentido a minha vida, em nome daqueles que não tinham sobrevivido”, ressaltou Yehuda Bacon na apresentação do projeto em Berlim.
Aos 85 anos, ele é um dos mais de 70 voluntários que deram depoimento ao projeto em forma de site com o objetivo de que histórias como a sua permaneçam no tempo e sirvam a futuras gerações.
Esse sentimento de “obrigação” e necessidade parece ser recorrente em todos estes sobreviventes: “Frequentemente questiono minha própria sobrevivência. Por quê? Por que eu? Não sou especial, mas sei que tenho que fazer algo e posso. Ou então optar por ficar amargurado. Mas quero olhar de frente e dizer não”, afirma Sabine van der Linden-Wolanski.
Agora ele vive em Sydney (Austrália) e as suas são algumas das palavras que agora enchem as paredes da fundação e que dão nomes e sobrenomes a esta passagem da história no subterrâneo do emblemático monumento de Berlim, que com imensos blocos de concreto lembra as vítimas.
O projeto, que durante seis anos recopilou um total de 220 horas de entrevistas em alemão, polonês e inglês, além de ser um fundo testemunhal, tem a intenção, segundo seus organizadores, de impedir que algo semelhante se repita no futuro.
“A narração é uma das melhores maneiras de transmitir esse objetivo, como o avô ao neto ou o professor ao aluno, através das palavras, da experiência”, explicou Yehuda Bacon na entrevista coletiva.
Tova Aran é outra destas pessoas que agora dão voz aos fatos a partir de Tel Aviv, sustentando uma fotografia de seus netos em seu pedaço de história em forma de vídeo: “Esta é minha pequena vingança à ideologia de Hitler. Fiquei sem irmãos e irmãs, mas consegui formar de novo minha própria família”.
No entanto, nem todas as lembranças expostas na coleção passam por um campo de concentração, sem deixar de ser, por isso, um exemplo de sobrevivência. Esse é o caso de Walter Frankenstein, que sobreviveu ao regime de Hitler escondido na capital alemã junto a seus dois filhos e sua mulher, falecida em 2009.
“Se sobrevivemos foi graças a minha mulher. Foi a força que nos manteve unidos, a lutadora da família. Ela queria que nossa história fosse conhecida pelas futuras gerações. É por ela que eu faço isto”, diz a fala atribuída a Frankestein na exposição.
Yehuda Bacon vive hoje em Jerusalém, mas não guarda rancores de Berlim, embora a cidade lhe desperte sentimentos contraditórios.
“Gosto de vir como turista, ir aos museus, monumentos, mas também gosto de pegar o trem, ver a cidade a partir de lá”, contou. EFE
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