Convento secreto no centro de Lisboa é aberto ao público

  • Por Agencia EFE
  • 26/03/2015 06h33

Lucía Rodríguez.

Lisboa, 26 mar (EFE).- O Convento de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, carrega 350 anos de história que começa com o triunfo que deu a independência aos portugueses dos espanhóis, mas sua existência foi um dos segredos mais bem guardados da cidade até sua recente abertura ao público.

“Quando abriu, este convento era um patrimônio desconhecido, inclusive para os portugueses”, explicou à Agência Efe Margarida Montenegro, diretora de Cultura da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, instituição proprietária do local, cuja abertura, gerou grande curiosidade entre os lisboetas.

O edifício esteve fechado por séculos, mas em uma região privilegiada, na entrada do Barrio Alto da capital portuguesa e junto ao famoso mirante de São Pedro de Alcântara, de onde é possível ver todo o centro da cidade.

“A Santa Casa quer colocar seu patrimônio à disposição do público”, informou a diretora, que disse que o edifício sempre esteve fechado porque abrigou várias instituições de ensino, além de comunidades religiosas.

A construção do convento tem sua origem no voto realizado por um dos nobres que lideraram as tropas portuguesas durante a vitória nas batalhas entre os reinos de Espanha e Portugal na Guerra da Restauração (1640-1668), o primeiro Marquês de Marialva. Foi ele quem prometeu que, se os portugueses conseguissem a independência, como finalmente ocorreu após a Batalha de Montes Claros, construiria um convento em homenagem a São Pedro de Alcântara.

Contudo, as relações além das fronteiras fazem parte da história do edifício. Ele foi construído após uma guerra na qual houve, inclusive, famílias de nobres portugueses que apoiaram a causa espanhola, em homenagem a um santo nascido na Espanha, mas muito popular em Portugal, e com o objetivo de ser o lar de uma comunidade de freis capuchinhos fundada por um franciscano espanhol, frei Martín de Santa Maria.

“Não se trata de uma relação de amor e ódio entre espanhóis e portugueses, essa é uma visão mais atual, não a da época. O fato é que portugueses e espanhóis sempre estiveram muito próximos”, disse André Duarte Silva, que acompanha as visitas guiadas realizadas as sextas-feiras e sábados no convento.

O guia explicou que o edifício foi construído nesse local por estar próximo do palácio onde vivia na época o Marquês de Marialva, uma área nobre antes do grande terremoto de 1755. Boa parte do Bairro Alto ficou totalmente destruída com o tremor, mas não o convento, onde foram conservadas algumas obras de arte, como um conjunto de esculturas que representa a morte de São Francisco de Assis.

Desde novembro do ano passado, as dependências do convento podem ser visitadas, assim como a igreja, onde uma série de painéis de azulejo representam cenas da vida de São Pedro Alcântara, além do claustro com vistas da cidade e a pequena capela dos Lencastres, uma “joia de mármore” dedicada a uma família de benfeitores da edificação do convento original, construído no século XVII.

Ao longo dos séculos, seu espaço cresceu até ficar três vezes maior e ocupar todo o quarteirão de um dos principais bairros turísticos e de vida noturna da atual capital portuguesa.

O convento encontrou uma nova vida após anos de esquecimento. Desde o século XIX, suas instalações eram usadas por religiosas que cuidavam de meninas e jovens órfãs. A partir dos anos 40, o edifício foi a casa das irmãs da Santíssima Anunciação, que ficaram por lá até 2012.

A diretora da Santa Casa de Misericórdia garantiu que são muitos os portugueses e turistas que se interessaram em conhecer o convento, e ressaltou que durante os séculos em que o prédio foi um mistério no centro de Lisboa, as religiosas mantiveram um grande trabalho de conservação. EFE

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