Conviver e morrer na savana africana
Alicia Alamillos.
Nairóbi, 22 mar (EFE).- Contar com grandes parques naturais, prontos e repletos de animais para safáris turísticos, tem um preço no Quênia: nos últimos anos aumentaram as mortes de cidadãos por ataques de animais selvagens, segundo o Serviço de Conservação da Fauna queniano (KWS).
As vacas, corcundas e famintas, pastam tranquilamente na savana africana, e o pastor olha de longe, mais inquieto. A cerca de poucos quilômetros está o parque nacional de Tsavo, e os elefantes, leões e leopardos que vivem nele não limitam seu território às fronteiras humanas.
Além deste parque, as outras zonas problemáticas estão em Lamu, Amboseli, Laikipia, Narok e o Masai Mara, embora, segundo disse à Agência Efe o diretor do KWS, William Kiprono, no último ano surgiram novas áreas como Makueni e Kajiado.
A rápida evolução do estilo de vida das comunidades locais, o crescimento demográfico, o aumento de infraestruturas e dos terrenos agrícolas e o pastoreio extensivo multiplicaram os conflitos entre humanos e animais.
“Os elefantes estão perdendo seu habitat pelo aumento da população humana e suas atividades sem controle, especialmente os cultivos e as queimas de carvão”, indicou Kiprono.
Os casos de conflitos entre humanos e fauna são comuns e diários: danos na infraestrutura de água, com perfurações de tanques e encanamentos e a destruição de cercas e terrenos agrícolas, além de vítimas mortais.
Segundo manifestou à Agência Efe a representante no Quênia do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW), Jacqueline Nyagah, há danos nas colheitas, quando manadas de animais selvagens invadem o milharal maduro pronto para coleta e o destroem em uma só noite.
Isso sem contar com os casos de locais e turistas mortos por ataques de elefantes, leões, búfalos, guepardos e crocodilos.
Neste ano, pelo menos três pessoas morreram pelos ataques de um elefante, e um trabalhador do projeto de ferrovia entre Mombaça a Campala, perto de Tsavo, foi atacado por um leopardo e seus filhotes, embora tenha conseguido sobreviver.
No total, mais de 200 pessoas morreram nos últimos cinco anos só por ataques de elefantes, segundo dados do Fundo Mundial para a Fauna Selvagem (WWF em inglês).
Os grandes herbívoros como elefantes, búfalos e hipopótamos, e carnívoros como leões, leopardos, guepardos, hienas e crocodilos são considerados como os principais responsáveis destes incidentes, segundo registrou esta mesma organização.
O IFAW, em colaboração com o KWS, controla desde 2012 os movimentos dos elefantes no Parque Nacional de Amboseli, causadores de vários danos nas infraestruturas, especialmente durante as estações secas (de janeiro a março e de julho a outubro).
“O acompanhamento dos elefantes através de colares com conexão a satélite nos permite colocá-los em um mapa, o que ajuda no desdobramento de pessoal de segurança e na mitigação” dos incidentes, explicou Nyagah.
Por sua vez, o KWS informou em fevereiro sobre a criação dos “Elephant Watchers” e o recrutamento de “atentos comunitários”, patrulheiros que durante os meses de estação seca, quando os elefantes e outros animais buscam novas fontes de água, farão o monitoramento dos movimentos dos animais.
A 200 quilômetros, no Parque Nacional de Nairóbi, são leões os que usam os colares de rastreamento, e onde os moradores dizem viver sob o temor que os animais ultrapassem as cercas da reserva e ataquem seu gado.
No entanto, quando os humanos defendem seus sistemas de água, seu gado ou seus fazendas, são os animais os que costumam acabar perdendo.
Segundo denunciou o WWF, as autoridades quenianas encarregadas da fauna selvagem disparam a morte de elefantes para entre 50 e 120 a cada ano.
O KWS assinala que o aumento progressivo deste conflito é “um desafio” para 2015, e que devem abordá-lo “promovendo uma interação positiva” entre ambos.
Entre as soluções que são ventiladas está a de escavar novas ribeiras de água para a estação seca, assim como o estabelecimento de novos e mais amplos corredores de fauna selvagem.
Os elefantes se movimentam porque essa é sua natureza. Pelas noites caminham facilmente dezenas de quilômetros, mas agora devem fazer isso nos “corredores de vida silvestre” designados pelos humanos, que não costumam coincidir com suas rotas milenares. EFE
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