Coreia do Norte, “um país de cogumelos” e um “mar de maçãs”

  • Por Agencia EFE
  • 13/02/2015 14h08

Atahualpa Amerise.

Seul, 13 fev (EFE).- Transformar as mulheres “em assistentes” de seus maridos, defender Kim Jong-un com “anéis de força” e construir “um país de cogumelos” são alguns dos 310 novos slogans publicitários do regime da Coreia do Norte.

Nas ruas norte-coreanas não existe publicidade privada. Elas são ocupadas por propaganda governamental com frases de elogio à dinastia Kim, ao Partido dos Trabalhadores e ao progresso da “pátria socialista”, slogans que vão ser renovados por ocasião do 70° aniversário do fim da colonização japonesa.

“Que todos os militares e o povo formem anéis de força em torno do respeitado Kim Jong-un!”, diz um dos novos lemas que, segundo anunciou hoje o regime, ocuparão em breve desde os painéis nas ruas até centenas de milhares de pôsteres e folhetos distribuídos ao longo do país.

Os slogans de elogio ao jovem Kim, seu pai e eu avô ocupam um lugar prioritário e têm como objetivo, segundo disse à Agência Efe o analista sul-coreano Chang Yong-seok, “promover a fidelidade” à dinastia que governa o país com mão de ferro desde sua fundação, em 1948.

Chang, especialista em assuntos norte-coreanos da Universidade Nacional de Seul, destaca que muitos dos novos lemas mostram “a vontade do regime de melhorar a economia” e de combater a crônica escassez de alimentos, que o país sofre desde os anos 90.

Desta forma, na lista podemos encontrar slogans tão pitorescos como “Nos transformaremos no país dos cogumelos mediante seu cultivo científico, intensivo e industrializado!” ou “Façamos cair as frutas em cascata e que seu doce aroma impregne o ar sobre um mar de maçãs!”.

Além das palavras agrícolas, também destaca-se um slogan machista: “Que as esposas dos oficiais (militares) se transformem em fiéis assistentes de seus maridos!”.

Sobre este último slogan, o professor sul-coreano explica que, “ao contrário das ideias originais do socialismo, a Coreia do Norte é uma sociedade muito patriarcal e sexista”, em linha com a tradição confucionista que imperou durante séculos e ainda é fortemente presente em ambos os lados da península coreana.

Jang Jin-sung, um escritor norte-coreano refugiado em Seul que foi propagandista do regime de Pyongyang, considera que os slogans servem principalmente para “informar o povo sobre a direção política do Partido e do exército” e como advertência, já que desobedecê-los pode acarretar em duros castigos.

Em todo caso, Jang é cético sobre a efetividade deste tipo de propaganda ao assegurar que “há muito tempo o povo se mostra indiferente” às mensagens transmitidas pelas elites e onipresentes na vida cotidiana de qualquer norte-coreano.

Neste sentido, muitos especialistas concordam que, desde o colapso do sistema de distribuição estatal nos anos 90 e a consequente crise de fome que deixou entre 500 mil e dois milhões de mortos, a outrora incondicional fé dos cidadãos em seu governo foi se deteriorando.

Assim, os analistas apontam que além da repressão, uma das maiores armas do regime para controlar sua população é a propagação do medo de uma invasão do “grande inimigo” Estados Unidos e de sua aliada Coreia do Sul, o que é refletido em boa parte dos novos slogans de Pyongyang.

“Sufocaremos com determinação as provocações militares e as conspirações de guerra dos belicistas dos EUA e Coreia do Sul!”, diz uma das frases, que provavelmente acabará impressa em um cartaz sobre o terraço de um edifício de Pyongyang ou à beira de uma das quase sempre vazias estradas do país. EFE

aaf/ff

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